Uma bebê de um ano que estava com febre e enjoo morreu 5h depois de ter dado entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Samambaia, em Praia Grande, no litoral de São Paulo. Ao g1, nesta quarta-feira (8), a mãe Raphaela de Carvalho, de 22 anos, contou que Laís Isabela da Silva recebeu uma medicação na veia e, passado um tempo, sofreu cinco paradas cardiorrespiratórias. A menina não resistiu e, agora, a prefeitura diz investigar o caso.
“Meu mundo, meu chão, minha vida, tudo acabou. Estou sem rumo. Eu nunca imaginei viver sem minha filha, muito menos enterrar minha filha. Horas antes ela estava ótima. Eu estou literalmente destruída e acabada. Minha vida acabou”, desabafou.
A ajudante geral Raphaella acredita que a filha tenha sido vítima de “negligencia médica”. Ela contou à reportagem que, na sexta-feira (3), a menina acordou vomitando e com febre. “Mediquei em casa com dipirona e dramin, e ela ficou sonolenta por conta do remédio contra enjoo”.
Ao notar Laís sonolenta, Raphaela decidiu levá-la à UPA Samambaia, por volta das 10h. Na unidade, de acordo com ela, o pediatra examinou a bebê e a diagnosticou com virose.
“À noite, ela [Laís] estava ainda mais sonolenta, chorando, reclamando e mamando. Voltei na UPA umas 23h30. Outro pediatra disse que era normal, e que iria passar um remédio para ela dar uma acordada [não sabe qual foi a medicação] e um soro”, disse.
Raphaela contou que após a filha ter sido medicada a boca dela ficou seca, o rosto pálido e a menina “não queria mais se mexer, ficou mole”.
Ela afirmou ter ido à enfermaria mostrar aos profissionais como a filha havia reagido a medicação. “A enfermeira olhou e disse que realmente a minha filha não estava bem. Eu comecei a chorar e fiquei apavorada. A enfermeira chamou o médico, ele chegou e disse: corre para a emergência e já intuba”.
De acordo a mãe, após três horas sem notícias, já na madrugada de sábado (4), o médico informou que o estado de saúde da menina era “muito grave”.
“Ela teve três paradas cardíacas e ele [o médico] veio querendo jogar a culpa em mim, perguntando se a minha filha tinha caindo ou se alguém tinha chacoalhado ela com força. Eu respondi que não, que ela estava ótima, que só estava vomitando”.
Segundo Raphaela, o médico argumentou que não estava conseguindo confirmar o motivo das paradas cardíacas. Na sequência, após realizar exame de raios X, ele teria retornado com a informação de que metade do pulmão da paciente não estava funcionando. “Ele disse que poderia ser uma pneumonia mal curada ou tuberculose. Minha filha nunca nem tossiu e não ficou gripada”.
Após informar a mãe sobre o estado de saúde da bebê, o médico autorizou a entrada de Raphaela, para que ela ficasse com a filha, que estava intubada. “Ver minha filha naquele estado foi uma das piores cenas da minha vida”.
Raphaela passou alguns minutos perto da filha e, depois, os médicos entraram na sala. Ela precisou sair e só foi comunicada sobre a filha às 4h20, quando uma médica informou a morte de Laís. “Eu fiquei sem acreditar. Eu estou vivendo um inferno sem minha pequena”.
“Eu entrei com a minha filha e sai sem ela. Veio outra pediatra falando que ela tinha falecido, que eles [a equipe médica] tinham feito de tudo, mas ela deve três paradas e depois mais duas paradas cardíacas”.
Corpo encaminhado para o IML
Após a morte ter sido confirmada, Raphaela contou que o corpo da bebê foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML), sendo liberado para os familiares na tarde desta segunda-feira (6). “O corpo da minha filha foi liberado por volta das 17h, depois de milhares de exames. Mas eu ainda estou sem saber qual foi o remédio que aquele desgraçado [médico] colocou na veia da minha filha”.
“Só vou saber [o resultado] daqui a 30 ou 90 dias, porque os exames vão ser analisados em São Paulo”, afirmou.
Prefeitura
Em nota, a Prefeitura de Praia Grande informou que o caso é investigado. “O Complexo de Saúde Irmã Dulce, do qual a UPA Samambaia faz parte e que é gerenciado pela Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), informa que já abriu sindicância interna para averiguar todos os fatos sobre o caso em questão”.
Ainda segundo a administração municipal, os profissionais que atenderam a paciente serão chamados para esclarecer eventuais dúvidas em relação a conduta adotada. “A Secretaria de Saúde Pública (Sesap) de Praia Grande explica ainda que está acompanhando o processo e se pronunciará ao final da sindicância”, finalizou.