domingo, 24 de novembro de 2024
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Banhara: Derrota nas eleições não afasta luta contra violência

Nascida em Taubaté, interior de São Paulo, a modelo Renata Banhara, 43, não conseguiu se eleger ao cargo de deputada federal nas eleições deste ano pelo PRB (Partido Republicano Brasileiro)….

Nascida em Taubaté, interior de São Paulo, a modelo Renata Banhara, 43, não conseguiu se eleger ao cargo de deputada federal nas eleições deste ano pelo PRB (Partido Republicano Brasileiro). Com 12.856 votos, ela diz que não desistirá do caminho político.

Ativista do direito das mulheres, Banhara enfrenta uma briga judicial com seu ex-marido após acusá-lo de traição e violência doméstica. Acredita que perdeu a eleição por falta de investimento e também por machismo.

Ela afirma que, por experiência própria, sabe o que é preciso mudar. “O sistema transforma a vítima em réu”, repete a modelo, que cita diversos casos de mulheres assassinadas por seus companheiros ou ex-maridos.

Decidida a se candidatar a vereadora nas próximas eleições, Banhara defende mudar a Constituição para fortalecer a Lei Maria da Penha e mudar as estruturas da delegacia da mulher. “Vou continuar, é uma missão de vida, tenho essa responsabilidade comigo. É algo que eu vivo e não consigo não transformar em uma bandeira política”.

Não é de agora que elas vislumbra uma carreira política. “Quando eu fui casada com o Frank Aguiar, eu já tinha esse desejo. Ele nasceu em berço político, tem a família toda engajada e eu fui me familiarizando com o assunto e, desde então, sempre estive familiarizada a algum partido político”, conta Banhara.

O músico Frank Aguiar, 46, foi eleito deputado federal por São Paulo pelo PMDB nas eleições de 2006. Dois anos depois, ele foi eleito vice-prefeito de São Bernardo do Campo (ABC), em chapa liderada pelo petista Luiz Marinho. Em 2014, ele se candidatou a deputado federal, novamente, pelo PTB, mas perdeu as eleições. Neste ano, tentou uma vaga para senador pelo estado do Piauí, também sem sucesso.

No início de sua carreira, Banhara foi modelo e pousou nua em revistas masculinas. Depois, foi apresentadora e repórter de programas de entretenimento no SBT, na Record e na Rede TV!. Em 2011, participou do reality A Fazenda. Antes de lançar a candidatura, Banhara mantinha seu trabalho como modelo.

Casada há oito anos com um empresário que não era conhecido do meio artístico, ela se separou em janeiro. Após passar mais de um ano tratando uma infecção cerebral, causada por uma bactéria alojada em seu dente, ela descobriu que estava sendo traída. “Nunca imaginei que um homem tão cordial e fino poderia fazer isso comigo. Enquanto eu estava internada, ele levava uma jovem para a minha cama. Quando eu descobri, ele me bateu. Chegou a quebrar o celular na minha cabeça”, afirma a modelo.

Segundo a modelo, a vida dela mudou em apenas 24 horas. “Achei que era uma mulher casada com uma vida tranquila e descobri um monstro, em todos os sentidos. A crueldade foi a violência psicológica que comecei a sofrer ali. A partir disso, eu abracei a minha causa para proteger as mulheres”, afirma.

Banhara escolheu o PRB ao sentir simpatia pelo partido. “Fui convidada pelo meu amigo Celso Russomanno, que também defende a causa da mulher. Além disso, é um partido jovem, tem uma visibilidade muito grande”, afirmou ela.

Renata afirma que sofreu com machismo durante a sua campanha. “Na rua, enquanto eu estava entregando meus santinhos, de mão em mão, eu ouvia: você não apanhou gostoso ou se você fosse minha ex-mulher, eu te matava”, conta ela. “E os outros homens que são candidatos defendem tanto a família, mas não entendem que a mulher é o principal pilar das famílias”, completa a modelo.

A modelo acredita que conseguiu chamar a atenção para a causa da mulher. “Fiz a minha campanha sozinha falando sobre o número de mulheres assassinadas por minuto no Brasil, não vi ninguém levantando essa bandeira, até que os outros candidatos começaram a tocar no assunto. O João Doria [PSDB] lançou até uma aplicativo semelhante ao que eu sugeri na minha campanha”, diz Banhara. “Temos um candidato à presidência que nunca se importou com as mulheres por anos, e adotou uma postura diferente só agora”, conclui a modelo.

Segundo dados divulgados pela SSP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), aumentou em 12% os casos de feminicídio registrados no estado, em comparação a 2017. Neste ano, 84 mulheres já morreram.

Banhara diz que quando sofreu a violência não teve como ligar para o 180. A partir da experiência, teve a ideia de criar um aplicativo que serve como um botão de emergência para pedir ajuda e chamar a polícia.

Seu partido, o PRB, desistiu de apostar na candidatura presidencial de Flávio Rocha, empresário dono da Riachuelo, e apoiou a Geraldo Alckmin (PSDB) no primeiro turno. A sigla não se manifestou quanto ao segundo turno, e Banhara disse que seu posicionamento independe da decisão oficial do PRB. “Ainda não decidi em quem vou votar e preciso ficar quietinha analisando as propostas deles, principalmente em relação às mulheres”, afirma ela.

Banhara diz que perdeu não só pelo machismo, mas pela falta de verba. “Minha campanha foi muito humilde. Muita gente nem soube que eu fui candidata. Até nas eleições não é fácil ser mulher, eu defendo que tenha um fundo partidário só para mulheres, porque os homens já fazem parte da máquina, eles já entram eleitos”, afirma a modelo.

Para ela, uma mulher tem menos chances durante a campanha, até fisicamente falando. “Um homem consegue fazer caminhadas por mais de dez cidades por dia, nós somos mais frágeis, não aguentamos tanto tempo nas ruas”, afirma ela. “Isso sem contar com a compra de votos -que nem sempre é feita em papel moeda- mas como troca de favores. Como dá para explicar os 15 nomes citados pela Lava Jato que foram eleitos?”, afirmou a modelo.

IDEIAS CRIADAS POR EXPERIÊNCIA PRÓPRIA

Em visitas à Delegacia da Mulher e em contato com advogados após passar por violência doméstica, a modelo diz que entendeu, por experiência própria, o que uma mulher violentada passa. “Aquilo é um verdadeiro SUS [Sistema Único de Saúde]. Os funcionários fazem o máximo que podem, mas não há estrutura nenhuma. O pior é que as medidas protetivas contra o homem não servem de nada. Sinto medo o tempo todo, meu ex-marido colocou gente atrás de mim e recebo intimações de processo dele por danos morais e isso independe da classe social da vítima”, afirma a modelo.

Banhara desejava mudar todo esse sistema como deputada. “A nossa Constituição é muito antiga. Estamos presas na mão da burocracia. A Lei Maria da Penha é excelente, mas ela não é colocada em prática. Existem vários recursos nesta lei que podem ser derrubados pela Constituição”, afirma a candidata.

No quesito estrutural, Banhara defende que a delegacia da mulher deveria fazer todo o processo, do começo ao fim. “É humilhante a mulher ter de ir ao IML para fazer exame de corpo delito. Lá é lugar para você entrar só depois de morta. A Delegacia da Mulher deveria ter mais mulheres trabalhando, médicas para atendimento. Mas há computadores velhos, delegadas exaustas porque os turnos são gigantes e uma equipe que não dá conta da demanda, que é grande”, afirma a modelo.

Banhara não quer desistir da política e pensa em se candidatar vereadora por São Paulo nas próximas eleições. “Infelizmente, eu não consegui o número suficiente de votos, mas esses 13 mil que votaram em mim entenderam a minha bandeira e vão falar com um amigo, um parente e divulgar isso. Não precisa de muito para ver que o feminicídio tem números terríveis, é só ligar a televisão. Só nessa semana, perdemos quatro mulheres”, afirma a modelo.

TIRAR O RÉU DO CONFORTO

Enquanto era agredida, Banhara fez um vídeo para conseguir provar a violência. Ela chegou a postá-lo em suas redes sociais, mas um juiz disse que o nome de seu ex-marido deveria ser preservado durante o processo judicial. “Por isso, a minha proposta é tirar o réu do conforto. Ele está protegido enquanto eu tenho o meu rosto revelado. Ou seja, essa lei transforma a vítima em réu”, afirma ela.

Mesmo antes dela própria sofrer a violência, Banhara disse que já viu muitos casos acontecendo na frente dela. “A babá dos meus filhos foi morta aos 28 pelo ex-marido. Ela confiou nos boletins de ocorrência e as medidas protetivas a favor dela, e acabou morta”, diz a modelo. Com informações da Folhapress.

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