O ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, disse nesta quinta-feira (21) que a pasta tem verificado uma redução de casos em algumas capitais do Norte e Nordeste e que o avanço da epidemia ao interior “é inevitável”.
“Nosso país que é continental está impactado de forma diferente de Norte a Sul. Temos uma linha imaginária passando pelo Mato Grosso até a Bahia, onde o impacto maior está na região Norte e Nordeste, já impactados, já preparados, e cada um com a curva no seu nível”, disse.
Segundo Pazuello, a pasta já verifica uma “redução significativa” de casos e da necessidade de leitos em algumas capitais dessas regiões.
Ele não citou quais seriam essas cidades. Em Manaus, cidade que vive colapso na saúde, especialistas dizem que ainda é cedo para uma análise e apontam risco de novo avanço caso sejam afrouxadas medidas de isolamento.
“Uma terceira etapa é uma progressão para o interior desses estados. É inevitável”, disse Pazuello.
“Essa progressão vai acontecer, e temos que estar preparados, aumentando ainda a capacidade [de atendimento] das capitais e cidades maiores, porque também serão o destino dessas pessoas que vão buscar o tratamento”, afirmou.
Ele defendeu investimentos em capacidade de transporte para envio de pacientes a cidades maiores e aumento de leitos em hospitais do interior, sem, contudo, citar medidas específicas.
Para Pazuello, a regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste ainda devem ter maior aumento de casos do novo coronavírus.
“Ao Sudeste, Sul, Centro-oeste, é a hora de se preparar. É hora de acumular meios, estruturar UTI, habilitar leitos, adquirir insumos e equipamentos e se preparar para o combate, com a vantagem de estarmos observando o que está acontecendo e como foi o impacto no Norte e Nordeste”, afirmou. “Rezamos para que o impacto seja menor, mas virá um grau de impacto, ou poderá vir.”
Dados do ministério, porém, apontam alguns estados destas regiões entre aqueles com maior número de casos e incidência do coronavírus, situação de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, por exemplo.
As declarações ocorreram em reunião com secretários estaduais e municipais de saúde. O encontro marcou o primeiro discurso de Pazuello à frente da pasta desde a saída do ministro anterior, Nelson Teich.
Em uma tentativa de obter apoio, Pazuello disse que gestores precisam ser “apartidários, não ideológicos, pragmáticos e objetivos” e defendeu união com estados e municípios.
“Nesse momento nossa missão é mitigar os efeitos da pandemia e salvar vidas, e todos os dias estamos acompanhando essas perdas”, afirmou.
Sem experiência na saúde, Pazuello disse que o SUS o “surpreende positivamente a cada dia” e que o sistema “continua forte em todas as direções, não apenas a Covid”.
Diz ainda que o trabalho no ministério “não parou e não vai parar” e que medidas devem considerar cenários regionais.
Representantes de secretários de saúde se queixaram da dificuldade de diálogo com o ministério desde a saída do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta. “Não é necessário estarmos em uma sala com 100, 150 pessoas para que as reuniões aconteçam”, disse Willames Bezerra, presidente do Conasems, conselho que reúne secretários municipais de saúde.
Também fizeram acenos ao ministro interino. “O ministro Pazuello é um homem de Estado, e o momento precisa de homens e mulheres de Estado”, afirmou o secretário de saúde do Pará e presidente do Conass, que reúne secretários estaduais, Alberto Beltrame.
Ele defendeu que haja consenso entre gestores no enfrentamento da pandemia, “sem dubiedades e sem vacilação”. “Não achamos que saúde é oposição à economia e nem economia é um antônimo da saúde”, disse, em referência a embates recentes na saúde.