A conscientização sobre o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) tem ajudado adultos a buscar informação, diagnóstico e tratamento.
Ao mesmo tempo, tem chamado atenção de autoridades médicas. Isso porque há o risco de uma possível banalização de diagnósticos e tratamentos do transtorno.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), equivalente à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) dos Estados Unidos, relata aumento “sem precedentes” nas prescrições de estimulantes entre 2020 e 2021.
O CDC traz outro dado relevante. O grupo populacional em que se apresentou o maior aumento do uso desses medicamentos foi o de mulheres, na faixa entre os 20 e 30 anos.
Estudiosa de TDAH “bombardeada” por anúncios nos sites e nas redes sociais
Essas e outras informações se encontram em artigo de autoria de Margaret Sibley, psicóloga clínica dedicada ao tratamento de pacientes com TDAH. A especialista é também pesquisadora psiquiátrica na Escola de Medicina da Universidade de Washington (EUA).
A profissional percebeu a grande quantidade de anúncios on-line sobre TDAH que passou a receber, graças a suas frequentes pesquisas sobre o termo na internet.
Os anúncios envolvem testes rápidos para supostamente detectar o transtorno, além de ofertas tanto de programas para “reativar o cérebro” quanto de tratamentos medicamentosos.
A “pandemia” de sintomas do TDAH durante a pandemia de covid-19
A pandemia e suas consequências para a saúde mental de muitas pessoas ajudam a explicar o aumento da busca por ajuda, para sintomas que podem ser ou não resultado do TDAH.
A possível banalização do diagnóstico e do tratamento de adultos, especialmente pelo caráter não individualizado de muitos atendimentos e serviços on-line, é uma das principais preocupações dos especialistas.
Pesquisas sem influência direta dos efeitos da pandemia
Os dados de 2023, quando coletados e disponibilizados, ajudarão as autoridades médicas a compreender melhor essas tendências. Isso porque já se estaria num período fora da emergência sanitária da covid-19. A pandemia terminou oficialmente em maio.
As autoridades médicas poderão analisar, por exemplo, quanto se indicou o uso de estimulantes para pessoas com problemas pontuais de concentração, ou para pessoas que de fato têm o transtorno.
No caso do segundo grupo, o aumento seria especialmente positivo. Afinal, significaria um maior número de diagnósticos adequados para indivíduos adultos. Parte relevante deste público pode nunca ter recebido tratamento por não saber ter o transtorno.
A oferta e a demanda por atendimento profissional, qualificado e individualizado também tenderiam a se equilibrar, com as novas informações e pesquisas. O mesmo aconteceria com a medicação apropriada para quem apresentar o TDAH, que atualmente enfrenta escassez.