O Atlético de Madri está na semifinal da Champions League. Mas não é só isso.
O Atlético de Madri dominou o Barcelona, neutralizou o melhor ataque do mundo, controlou o atual campeão e acabou com as chances do inédito bicampeonato, do triplete em sequência, de recordes que o time catalão já não pode mais bater. 2 a 0, com dois gols de Griezmann, e o sonho vivido até os 93 minutos da final de Lisboa, há dois anos, continua.
O Atlético de Madri está na semifinal da Champions League com os méritos de quem, sem olhar para recordes, quis jogar futebol. De seu jeito, à sua maneira, e com o sofrimento de sempre.
Em um estádio lotado e pulsante, o Atlético de Madrid levou para campo o que se via nas arquibancadas: esperança, sentimento e pressão, muita pressão. Se os torcedores gritavam a cada jogada, os 11 eleitos por Simeone não deixavam o rival ter tempo de pensar.
Todo o primeiro tempo foi uma aula de como se neutralizar o time de Luis Enrique. A marcação começava já nos metros iniciais de campo, com Carrasco e Griezmann dificultando a saída de bola e tornando os chutões – experiente raro no time catalão – uma cena comum.
No meio-campo, Busquets não conseguia dar ritmo ao jogo, Rakitic aparecia pouco e Iniesta, sobrecarregado, também não municiava Messi, Suárez e Neymar. O argentino tentava resolver a situação voltando para buscar jogo, mas parava na marcação; o brasileiro buscava estratégia semelhante, igualmente sem êxito; e o uruguaio, escondido entre os zagueiros, também não se encontrava.
Sem conseguir atacar, o Barcelona tentava manter-se com a bola para – pelo menos – não sofrer ataques. Não dava certo: o Atlético conseguia recuperar a posse com frequência e chegava, sobretudo pela lateral-esquerda, de um Jordi Alba desatento nos movimentos defensivos.
Depois de pelo menos quatro jogadas perigosas pelo setor na primeira meia-hora de jogo, o Atlético conseguiu abrir o placar. Aos 36 minutos, Saúl Ñíguez avançou justamente pela lateral defendida por Alba e cruzou na área. Antoine Griezmann, de cabeça, tocou sem chances para Ter Stegen.
O Barcelona sentiu o golpe, e a única tentativa de resposta veio em um chute de Neymar, aos 41 minutos, que parou nas mãos de Oblak. Foi o único disparo certo do time catalão em toda a primeira etapa; Messi, em uma cobrança de falta, deu o outro chute do Barcelona nos primeiros 45 minutos – o Atlético deu cinco, quatro deles entre as traves.
No intervalo, o sistema de som do Vicente Calderón recebeu o retorno das duas equipes com Highway to Hell, do grupo australiano AC/DC, a todo volume.
E a rota do Barcelona rumo ao inferno da eliminação parecia cada vez mais certa no início da segunda etapa. O Atlético continuava melhor, e, quando a cabeçada de Saúl Ñíguez tocou o travessão, aos 8 minutos, o estádio foi uma mistura entre silêncio e euforia.
Silêncio porque um segundo gol poderia ser o golpe definitivo. Euforia porque o Atlético dominava um Barcelona que parecia inoperante.
Depois de quase levar o segundo, o time catalão finalmente reagiu e, a partir dos 12 minutos, passou a ter mais presença ofensiva. As linhas de passe apareciam e, pela primeira vez na partida, os comandados de Luis Enrique se pareciam com o time que, até 11 dias antes, encantava o mundo.
Só que a pressão do Barcelona, com suas linhas adiantadas, abria espaços para os contra-ataques – e Griezmann, aos 15 minutos, quase amplia; Ter Stegen defendeu o chute rasteiro do francês.
Aos 19 minutos, o duelo ganhou um novo componente: Arda Turan e Sergi Roberto entraram no Barcelona, substituindo Ivan Rakitic e Daniel Alves. O turco, ex-jogador do Atlético, foi muito vaiado pelo estádio em que foi ídolo até a temporada passada.
As mudanças aumentaram a pressão no Barcelona, sobretudo no lado direito do ataque. Mas o Atlético, com uma defesa bem postada e a ajuda de todos os jogadores na marcação, conseguia evitar que os atacantes rivais recebessem a bola em condições de concluir.
O time de Diego Simeone esperava por um contra-ataque. E, aos 40 minutos, ele veio. Filipe Luis avançou pela esquerda e, quando tentava o passe para Griezmann, Mascherano tocou com a mão na bola.
Pênalti, que Griezmann converteu para fazer 2 a 0 e fechar a tampa do caixão.
Mas ainda houve tempo para muita polêmica. Nos segundos finais da partida, após levantamente no área, a bola bateu na mão de zagueiro do Atlético dentro da área. Os atletas do Barça reclamaram muito, mas o árbitro italiano Nicola Rizzoli marcou apenas falta na entrada da área. Na cobrança, Messi mandou para fora, ratificando a classificação colchonera.
Para o Barcelona, o pesadelo se repete no mesmo palco da última queda europeia. Agora, o time se volta para a Liga – é líder com 3 pontos de vantagem sobre o Atletico – e a Copa do Rei, em que está na final contra o Sevilla.