Unus pro omnibus, omnes pro uno. Ou simplesmente “um por todos, todos por um”. O lema de Athos, Porthos, Aramis e D´Artagnan foi consagrado no romance “Os Três Mosqueteiros”, de 1844, do francês Alexandre Dumas. O elenco da seleção brasileira masculina de goalball (modalidade paralímpica para atletas com deficiência visual) mostrou, no primeiro encontro para treinamentos do ano, que leva a filosofia mosqueteira bem a sério.
Logo após se reunirem no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, os jogadores rasparam o cabelo em solidariedade a um companheiro. No fim do ano passado, durante a última fase de treinos da seleção, Denis Henrique de Oliveira, ala-pivô que atua pelo Sesi-SP, foi diagnosticado com um câncer no sangue chamado Linfoma de Hodgkin, que tem origem no sistema linfático.
“Ele me procurou com uma dor na cervical. Achei estranho e já fizemos os exames no mesmo dia. Foi tudo rápido e organizado. Eu e a psicóloga lemos a notícia com ele. Foi difícil, porque é como se ele fosse da família”, disse Rafael Loscki, fisioterapeuta da seleção, em depoimento ao site do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).
O atleta, de 30 anos, já iniciou a quimioterapia, mas, segundo os jogadores, precisa ficar isolado por causa do tratamento. Contato, por enquanto, só por mensagens. Foi então que o ala Romário Marques, capitão da seleção, teve outra ideia para aproximar Denis e o time.
“O Romário falou: o que vocês acham, para estarmos mais perto dele, de fazermos uma homenagem e todo mundo raspar a cabeça? Ninguém se opôs”, contou o ala Son, que além de companheiro de seleção, atua com Denis no Sesi.
“Era o mínimo que podíamos fazer por ele. Gestos assim fortalecem nesse momento difícil que ele está passando”, explica Romário.
“Nosso esporte é coletivo, e levamos isso para além da quadra. Um quer que o outro esteja no lugar mais alto do pódio, então, aqui é um pelo outro”, completa o ala Mizael Castro, uma das caras novas da seleção líder do ranking mundial de goalball e que buscará a primeira medalha de ouro paralímpica da modalidade em Tóquio (Japão).
Otimismo
O verbete sobre o Linfoma de Hodgkin no site do Instituto Nacional do Câncer (Inca), do Ministério da Saúde, informa que, com a evolução no tratamento, a mortalidade causada pela doença foi reduzida em mais de 60% desde a década de 70. Relata, ainda, que a maioria dos pacientes “pode ser curada com o tratamento disponível atualmente”.
A confiança na recuperação de Denis é compartilhada pelo grupo. O ala Parazinho, também parceiro de Sesi e seleção, aposta na volta do amigo às quadras ainda esse ano. “Teremos, em novembro, a primeira edição de um Mundial Interclubes [de goalball], em Lisboa [Portugal]. Se Deus quiser, ele estará recuperado, fará parte da nossa equipe e viajará conosco para buscarmos uma medalha”, torce.
Durante a semana de treinos, o grupo gravou um vídeo de apoio a Denis, com mensagens e imagens dos atletas raspando a cabeça. A gratidão do homenageado transbordou em uma emotiva mensagem enviada ao elenco: “Acabei de ver o vídeo aqui. Meu Deus do céu, gente. Vocês são demais. Vocês são pessoas. São anjos de Deus na minha vida. Todos vocês, todos. Atletas, comissão técnica. Todo mundo. Tem que agradecer. Meu, que vídeo lindo. Demais gente. Não esperava. Eu amo todos vocês. Obrigado por essa homenagem, obrigado”.