“A lista rodou inteira, até cachorro entrou”, diz um dos alvos de interceptação telefônica que miram um esquema de fraudes na concessão do Financiamento Estudantil do Governo Federal (FIES) e na venda de vagas e transferências de alunos do exterior para o curso de medicina ofertado pela Universidade Brasil, de Fernandópolis.Os áudios foram revelados neste domingo, 8, pelo Fantástico, da Rede Globo. O teor da ligação foi confirmado ao Estado.
As interceptações se deram na Operação Vagatomia, deflagrada nesta terça, 3. A Polícia Federal investiga ainda fraudes em bolsas do Programa Universidade para Todos (ProUni) e nos cursos de complementação do exame Revalida, para revalidação de diploma. Entre os presos, está o dono da Universidade Brasil, José Fernando Pinto da Costa.
Estimativas iniciais da PF indicam que, nos últimos cinco anos, aproximadamente R$ 500 milhões do Fies e do ProUni foram concedidos fraudulentamente.
Entre os alvos das ordens de prisão estão o dono da universidade e seu filho, além de diretores e funcionários das unidades onde as fraudes foram identificadas – São Paulo, São José do Rio Preto e Fernandópolis. Integrantes das ‘assessorias’, que vendiam vagas no curso de medicina, financiamentos FIES e bolsas do Prouni também estão entre os alvos da operação.
A Justiça Federal determinou ainda o bloqueio de até R$ 250 milhões em bens e valores dos investigados.
Um dos investigados, Rosival Mareus Molina é conhecido como ‘pastor de alunos’. Segundo consta nos autos, ele ‘é apontado como um dos principais investigados e mantém relacionamento próximo com o reitor José Fernando há vários anos, com quem respondeu por problemas anteriores com a justiça também relacionados à concessão irregular de Fies’.
“Também participava das reuniões na sede da universidade brasil e da tomada de decisões sobre a situação dos alunos alunos cooptados e conta com grande estrutura responsável pela captação de alunos para a Universidade Brasil, que conta com a participação necessária de seu assecla Davi Correia Bonfim, responsável pela inserção de dados ideologicamente falsos nos requerimentos do Fies”.
As investigações duraram cerca de oito meses e identificaram que o líder do esquema era o próprio dono da universidade, que também ocupa o cargo de reitor. O empresário, engenheiro de 63 anos, e seu filho, que também é sócio do grupo educacional, sabiam do esquema e participavam dos crimes em investigação, segundo a PF.
Segundo a Polícia Federal, ‘assessorias educacionais’, com o apoio dos donos e da estrutura administrativa da universidade, negociaram centenas de vagas para alunos.
Entre os estudantes que compraram suas vagas e financiamentos estão filhos de fazendeiros, servidores públicos, políticos, empresários e amigos dos donos da universidade – ‘todos com alto poder aquisitivo, que mesmo sem perfil de beneficiário do FIES, mediante fraude, tiveram acesso aos recursos do Governo Federal’.