Mais que Neymar, Messi ou Cristiano Ronaldo, o nome mais lembrado na Copa do Mundo até o momento tem três letras: VAR.
Trata-se da sigla em inglês (video assistant referee) para árbitro assistente de vídeo, ou seja, o grupo de auxiliares que, ao analisar imagens exibidas em vários monitores, pode indicar ou não uma infração, ajudando o juiz principal. Até esta segunda-feira, com cinco dias de disputa, a novidade tecnológica da Fifa decidiu sobre três dos oito pênaltis marcados nos 14 primeiros jogos disputados na Rússia – o mais recente definiu a vitória da Suécia por 1 a 0 contra a Coreia do Sul.
Os lances mais polêmicos, no entanto, não se transformaram em infrações: o suposto pênalti sofrido por Gabriel Jesus e, principalmente, o empurrão que Miranda teria sofrido, permitindo o gol de empate da Suíça, lances ignorados pelo árbitro mexicano Cesar Ramos. A cúpula da Fifa afirmou estar “satisfeita” com as decisões e insistiu que o VAR funcionou. O uso do vídeo só não pode tirar do futebol o seu caráter de contato. “Caso contrário, matamos o jogo”, afirmou um dos principais dirigentes da entidade.
Depois de uma revisão da partida, a Comissão de Arbitragem e seu diretor Pierluigi Collina acreditam que não houve uma falha evidente. A decisão abriu uma crise política entre Fifa e CBF – nesta segunda-feira, a Confederação Brasileira de Futebol passou a ser a primeira no mundo a questionar, por meio de uma carta, o uso da tecnologia e seus critérios. A crítica foi recebida com irritação na Fifa, que insiste que os lances duvidosos contra a Suíça foram avaliados e que a ordem dos técnicos na cabine foi para “seguir o jogo”.
A comissão admite que a tecnologia não vai acabar com as polêmicas e com as subjetividades. À reportagem, um dos diretores da Fifa também disse que existe uma orientação de que nem todos os lances devem ser alvo de uma reavaliação de vídeo, paralisando o jogo.
A avaliação é de membros da comissão de arbitragem da Fifa que vem se reunindo diariamente para avaliar a situação. À reportagem e na condição de anonimato, um dos principais nomes da arbitragem da Fifa não disfarça o seu sentimento de que o uso da tecnologia não representa o fim dos debates no futebol.
Não restam dúvidas, segundo a entidade, que os erros poderão diminuir com o uso da tecnologia. “Quando o debate é se a bola cruzou ou não a linha do gol, teremos uma ajuda fundamental”, disse um dirigente.
Mas, em algumas ocasiões, como no caso do lance entre Miranda e o atacante suíço, a decisão continua sendo subjetiva. “Você pode ver a imagem mil vezes. Mas não há como saber se o toque foi apenas um toque ou se houve força para empurrá-lo”, explicou um dos árbitros. “Do outro lado do computador, continua havendo um ser humano”, comentou.
Esse não foi o único caso de controvérsias. O técnico da Austrália, o holandês Bert van Marwijk, criticou o árbitro uruguaio Andres Cunha depois de ele ter optado por dar um pênalti para a França ao rever um lance pelo vídeo. “Espero que um dia exista um árbitro muito honesto”, disse. O lance resultou no gol que deu a vitória para a França por 2 a 1.
A tecnologia poderá também servir como um escudo para árbitros duvidosos. “Alguns podem fazer com que a VAR se torne uma muleta e, com isso, entregar ao vídeo praticamente todas as decisões”, advertiu Arnaldo César Coelho, em abril.
Seja como for, a medida é vista como positiva. “Estamos apenas começando, mas estamos convencidos de que o vídeo será benéfico para o futebol porque o comportamento vai mudar”, disse Pascal Garibian, diretor da entidade de árbitros da França, em entrevista ao France Football.
Uma dessas mudanças foi antecipada pelo preparador de goleiros da seleção, Taffarel, que, em maio, afirmou que aumentaria o número de pênaltis durante o Mundial. A previsão do tetracampeão em 1994 veio acompanhada de um alerta: a de que os goleiros precisariam fazer um trabalho específico para isso. “A gente faz um trabalho integrado com os analistas de desempenho da seleção para buscar informações dos adversários, dos prováveis batedores de pênalti”, completou o outro preparador, Rogério Maia, na mesma ocasião. “A gente não pode deixar de estudar esse tipo de situação”.