Poderia ter sido a Copa de Neymar. Poderia ter sido a Copa de Tite. Poderia ter sido a Copa da redenção. De um Brasil que dá certo.
Porém, para o craque da seleção, e para a própria equipe, o Mundial da Rússia terminou de maneira melancólica nesta sexta-feira com a derrota por 2 a 1 para a Bélgica, em Kazan, nas quartas de final – um estágio antes da eliminação para a Alemanha quatro anos atrás. O hexa foi mais uma vez interrompido, agora por um rival forte, competente, formado por atletas habilidosos e experientes e bem armado. Os belgas foram melhores do que o Brasil. Simples assim. Neymar, que disse ter ido à Rússia para ganhar a Copa – e habilitar-se ao título de melhor do mundo -, vai ter de esperar.
O brasileiro, que demorou para se empolgar com a disputa, mas que depois se dobrou a ela e à seleção, enrola sua bandeira agora e volta para a dura realidade de um País que, assim como nosso futebol, tem um caminho a percorrer para se acertar.
É a sexta vez na história das Copas, considerando-se a da Espanha em 1982 (quando um triangular precedeu a semifinal e teve caráter de quartas), que a seleção fica pelo caminho nesta fase. Isso ocorreu pela terceira vez nos quatro últimos Mundiais (2006, 2010 e 2018). Em 2014, o time foi mais longe, em quarto lugar após levar 7 a 1 da Alemanha e 3 a 0 da Holanda.
Na Rússia, o Brasil chegou com status de favorita, consequência do bem-sucedido trabalho de quase dois anos de Tite à frente do time. Favoritismo que aumentou à medida que Neymar foi se soltando. Ele deixou para trás a contusão no pé direito – que o fez submeter a uma cirurgia e parar por três meses – e foi crescendo jogo a jogo.
Com ele recuperado, e com Cristiano Ronaldo e Messi fora, Neymar teve a chance de assumir a condição de “o cara” da Copa. Mas nesta sexta-feira, no maior obstáculo do time na Rússia, ele falhou. Ele e os companheiros. “Saímos frustrados. A vida segue e temos de seguir. Queríamos essa conquista. Quando se perde, muita coisa é falada. Não dá para pensar em nada agora”, disse Philippe Coutinho.
Neymar foi implacavelmente marcado por Fellaini – ora na bola, ora nas pancadas. Não brilhou. Ao contrário, teve atuação apagada enquanto via o outro camisa 10 no campo, o belga Eden Hazard, mandar no jogo.
Visivelmente incomodado com a falta de espaço, o craque pouco fez. Até arrancadas tentou pouco. Por três vezes, errou lances bobos, falhas que, para um atleta como ele, só acontecem quando a ansiedade passa a dominar os movimentos. Teve como bom momento uma conclusão de fora da área que o goleiro Courtois espalmou. Seria o empate. Não foi. Neymar se despede da Copa de 2018 sem brilho.
Mas Neymar não perdeu sozinho. Isso precisa ficar claro. Nem o jogo nem a Copa. Nesta sexta-feira, por exemplo, Willian voltou a jogar mal como em quase todo torneio. Paulinho não teve novamente fôlego para fazer o vai e vem que a sua função exige. Gabriel Jesus, brigador como sempre, outra vez decepcionou. Foi na Rússia um camisa 9 sem gols.
E Fernandinho, substituto de Casemiro, teve atuação tão ruim que fez lembrar a sua horrível participação na tragédia do Mineirão de 2014. Falhou ao marcar o primeiro gol contra e, no segundo, poderia ter parado a jogada em seu início. Sem contar que, pela primeira vez em que ficou em desvantagem na disputa, os jogadores se mostraram desesperados. O controle emocional e a maturidade, que ajudaram a vencer o México, desapareceram. Assim, o Brasil sucumbiu. Foi um time voluntarioso, atacou bastante, criou chances, mas não fez gols – pode lamentar as boas defesas de Courtois.
O time errou passes. Tite, a cada bola que não entrava, levava as mãos ao rosto, desesperado como o time. No fim, preferiu deixar as deficiências da seleção de lado e elogiar os belgas. “A Bélgica teve três finalizações e foi efetiva. Traduziu em gol suas chances. É duro falar, mas foi um grande jogo. Duas equipes com qualidade técnica impressionante”, disse.
Sob seu comando, o Brasil perdeu pela segunda vez em 26 jogos – 20 vitórias e quatro empates. Foi a sua primeira derrota em jogo oficial – havia perdido amistoso para a Argentina por 1 a 0, no ano passado. Foi também a mais amarga derrota porque lhe tirou a chance de ser campeão. Chance que poderá ter daqui a quatro anos, se a CBF confirmar a disposição de renovar o seu contrato até o Mundial do Catar, em 2022. E se ele tomar mais uma vez o desafio.
A seleção se desfaz neste sábado, em Kazan. Chega ao Brasil na madrugada deste domingo. Os atletas estão liberados.