Por 13 minutos, Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, acusado de chefiar uma rede de jogos ilegais em Goiás e Distrito Federal, usou do direito constitucional de permanecer em silêncio em resposta à maioria das perguntas formuladas pelo juiz Alderico Rocha Santos, durante audiência na 11ª Vara da Justiça Federal, realizada nesta quarta-feira (25). Nas poucas vezes em que falou, o réu fez uma declaração de amor à mulher e se disse um “leproso jurídico”.
“Gostaria de fazer um bom debate, mas devido às falhas do processo decidimos pelo silêncio”, declarou o bicheiro, afirmando que a denúncia contra ele é inepta. O depoimento do contraventor era o mais aguardado da sessão, que começou ontem e analisa a operação Monte Carlo, da Polícia Federal –que prendeu o bicheiro em fevereiro deste ano. Cachoeira é acusado de liderar um esquema de jogos ilegais atuando com influência sobre agentes públicos e empresas.
Cachoeira disse ainda que seu sofrimento é muito grande e, virando em direção a sua mulher, Andressa Mendonça, que estava na plateia, afirmou: “aquela mulher mudou a minha vida”. E completou: “Eu te amo”. Andressa respondeu que também o amava. Quando questionado pelo juiz se era casado, disse que era uma pergunta difícil, porque não era casado oficialmente. “Só o Ministério Público me liberar. No primeiro dia, tá?”, disse, olhando para Andressa. “Essa declaração eu queria fazer em público”, completou.
“Eu virei um leproso jurídico, mas um dia tudo vai ser esclarecido e eles vão saber quem eu sou”, finalizou Cachoeira, que voltou para a primeira fila do auditório da Justiça Federal. Durante depoimento à CPI do Cachoeira em maio, o contraventor também ficou calado e chegou a afirmar que falaria à Justiça, o que não se concretizou.
O réu Idalberto Matias, o Dadá –ex-sargento da Aeronáutica e acusado de ser o “araponga” do grupo de Cachoeira–, foi chamado em seguida e permaneceu calado. Os dois últimos réus, José Olímpio de Queiroga Neto e Raimundo Washington de Souza Queiroga, também usaram o direito de ficar em silêncio. Queiroga Neto é apontado como responsável por escolher e consentir, a mando de Cachoeira, quem exploraria jogos na região do entorno do DF e Queiroga explorava, diretamente, jogos ilegais na região, segundo a denúncia.
Antes de Cachoeira, falou o réu Lenine Araújo de Souza, que negou participação no esquema. “Nego veementemente todas essas provas colhidas contra mim. Não aceito elas como legais, nem as gravações nem os vídeos”, disse.
Também foi ouvido o réu Wladimir Garcez, apontado como braço político de Cachoeira no esquema. Ele afirmou que Lenine Araújo e José Olímpio Queiroga eram amigos do bicheiro, assim como ele, e que jogavam futebol nos fins de semana em uma chácara de Cachoeira em Anápolis (GO). “Não falo com muita frequência com Carlinhos Cachoeira. Falava mais no fim de semana para marcar futebol em uma chácara”, disse.
Mais cedo, a defesa dos réus pediu a suspensão da audiência para que fossem realizadas as oitivas de todas as pessoas citadas nos depoimentos dos agentes da Polícia Federal ouvidos nesta terça (24) e quarta-feira (25). Os policiais afirmaram que o grupo de Cachoeira tinha proteção de agentes de diferentes polícias. Depois de consultado o Ministério Público Federal, o juiz Alderico dos Santos Rocha negou os pedidos.
A audiência foi encerrada às 17h23 desta quarta-feira e o juiz deu 24 horas para as partes, acusação e defesa, apresentarem requerimentos. O juiz afirmou que pode levar até 30 dias para dar a sentença sobre o caso. As defesas tem até a segunda-feira (30) para apresentar os requerimentos que entenderem necessários, como perícias e pedidos de esclarecimentos.
Cachoeira foi levado de volta ao presídio da Papuda, em Brasília.