É pouco comum no futebol brasileiro que jogadores assumam posições publicamente sobre a política nacional, como fez o palmeirense Felipe Melo no último domingo (16).
Em entrevista ao vivo no gramado da arena Fonte Nova, em Salvador, ele dedicou o gol marcado contra o Bahia ao candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL).
Semanas antes, outro atleta que externou seu apoio ao presidenciável foi o meio-campista Lucas Moura, do Tottenham (ING), se juntando a um grupo que, além de Felipe Melo, já tinha os corintianos Jadson e Roger.
Quando se pensa na tabelinha entre futebol e política, uma das figuras mais lembradas é a de Sócrates (1954-2011), ídolo do Corinthians e personagem central de movimentos importantes na década de 1980, como a Democracia Corintiana e a campanha das Diretas Já.
Em 2017, o jornalista escocês Andrew Downie, correspondente da Agência Reuters no Brasil, publicou (em inglês) uma biografia do jogador. “Doutor Sócrates: Futebolista, Filósofo e Lenda” é o título traduzido da obra de 400 páginas, editada pela Simon & Schuster.
Segundo Downie, que investigou a fundo a vida do ex-atleta da seleção brasileira para o livro, a onda atual de manifestações pró-Bolsonaro não poderia servir de comparação com a atuação política de Sócrates há três décadas.
“Esses caras hoje em dia são o contrário do Sócrates. Ganham muito mais e se importam muito menos com o lugar de onde eles vêm. Sócrates com certeza estaria chocado em ouvir jogadores do Corinthians ou de qualquer time grande, como Palmeiras ou Tottenham, falando a favor do Bolsonaro, do autoritarismo”, diz o jornalista à reportagem.
Para Downie, porém, a falta de posições firmes de grandes estrelas do futebol sobre diversos temas não é uma exclusividade brasileira.
“No futebol americano você tem Colin Kaepernick, que lutou a favor dos direitos dos negros nos Estados Unidos, tem LeBron James no basquete. Você tem duas estrelas do esporte lutando por causas sociais. No futebol não tem ninguém fazendo isso. Nem pensar em Messi e Cristiano Ronaldo”, afirma.
Além da original em inglês, a biografia de Sócrates tem uma edição em francês (com prefácio de Raí) e já estão previstas edições em outras quatro línguas: italiano, turco, árabe e polonês.
Andrew Downie acredita que o grande interesse de fãs de futebol pelo mundo na figura de Sócrates se dá pela curiosidade de saber mais sobre sua vida fora dos gramados.
“Acho que há um interesse em saber mais sobre o homem Sócrates. Todo mundo sabia que ele era o capitão do time de 1982, uma estrela cult em muitos sentidos. As pessoas lá fora queriam saber mais sobre sua atuação social, as campanhas políticas. Particularmente hoje em dia, quando nós temos jogadores de futebol completamente alienados”.
Por ora, nenhuma editora do Brasil se interessou pela publicação da obra, mas o autor negocia com um parceiro para viabilizar o livro de forma independente em língua portuguesa. O acerto depende de algumas pendências jurídicas.
Já existem no mercado outras três biografias do ídolo corintiano: “Sócrates”, de Tom Cardoso, “Sócrates e Casagrande – Uma história de amor”, de Gilvan Ribeiro e Walter Casagrande Jr, além de “Sócrates Brasileiro – Minha vida ao lado do maior torcedor do Brasil”, escrita pela viúva dele, Kátia Bagnarelli.
OUTROS ESPORTISTAS QUE APOIARAM CANDIDATOS
– Bernardinho: Em 2014, o então treinador da seleção brasileira masculina de vôlei declarou apoio ao candidato do PSDB à presidência, Aécio Neves.
– Neymar: Outro que apoiou a candidatura de Aécio em 2014 foi Neymar, na época jogando pelo Barcelona (ESP). Ele chegou a gravar um vídeo em apoio ao tucano.
– Jadson: Assim como Felipe Melo, o corintiano é um apoiador de Jair Bolsonaro. Jadson revelou sua preferência pelo candidato do PSL em entrevista ao UOL, em 2017.
– Roger: Também no ano passado, o atacante corintiano (então jogador do Botafogo) declarou apoio a Bolsonaro no Instagram. O atleta postou foto ao lado de deputado federal e declarou: “Foi muito bom passar algumas horas com você, meu futuro presidente”.
– Lucas: Mais recentemente, o meia Lucas, do Tottenham (ING), tornou público por meio do Twitter o seu voto em Bolsonaro nas próximas eleições. O anúncio gerou discussão com seguidores