sexta-feira, 20 de setembro de 2024
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Ao mestre, com carinho

A notícia da morte de Aguinaldo Pavarini chegou aos meus ouvidos no final da noite. O porta voz da triste mensagem dizia que o dr. Aguinaldo, como era chamado de…

A notícia da morte de Aguinaldo Pavarini chegou aos meus ouvidos no final da noite. O porta voz da triste mensagem dizia que o dr. Aguinaldo, como era chamado de forma respeitosa e carinhosa, havia sucumbido, de forma serena, como, aliás, sempre fora de seu feitio.
No mesmo instante, a primeira lembrança que me veio foi a certeza de que nunca mais receberia aquelas ligações, geralmente aos sábados, ainda pela manhã. Funcionava desse jeito: o dr. Aguinaldo se dizia um assíduo e ávido leitor de meus artigos e sempre me ligava para repercutir o assunto tratado na coluna. Muitas vezes, me parabenizava pelo texto. Noutras, questionava e discutia minhas colocações. Algumas vezes, discordava, com sua veemência característica, e ponderava as razões pelas quais o fazia. Nunca é demais lembrar que, nessas ocasiões, quase sempre me convencia de que eu estava errado. Resignado, não havia outra coisa a fazer, senão recuar em alguns de meus posicionamentos.
A verdade é que suas ligações eram sempre aguardadas com ansiedade, porque ele era tido por mim como um termômetro e seu contato era uma forma de balizar se o que eu pensava estava dentro dos padrões conceituais do dr. Aguinaldo.
Embora a triste notícia me desse a certeza de nunca mais receberia suas ligações, ao mesmo tempo me trouxe uma outra certeza, a de que, assim como o apóstolo, o dr. Aguinaldo também combateu o bom combate e cumpriu sua missão. As escolhas da sua vida fizeram com que trilhasse, sempre, o caminho da retidão e da probidade.
Como político, deu inúmeras demonstrações de desapego pelo poder, entrando e saindo da vida pública da mesma forma como entrara, de cabeça erguida, altivo e orgulhoso de haver dado o que tinha de melhor.
Como companheiro de entidade de classe, inúmeras foram as ocasiões em que assumiu papel de destaque ao revelar, com suas atitudes, ser um homem de grupo, defendendo, com sua oratória perfeita, as questões defendidas pelo órgão de classe que representava, sempre com muita ética.
Como cidadão, a certeza do dever cumprido, sempre envolvido em causas nobres e devotando seu tempo e sua capacidade à entidades e clubes de serviço os mais variados, procurando ajudar qualquer que fosse a dificuldade.
Na cerimônia em sua homenagem, vários oradores declinaram palavras de conforto à família e realçaram os seus feitos. Por uma feliz coincidência, um deles, exatamente o último, conseguiu sintetizar a sua essência. O amigo dileto Luiz Carlos Barros Costa, outro mestre da oratória e profundo conhecedor da alma humana, contou que, nos seus últimos momentos de lucidez, o dr. Aguinaldo havia confessado que ainda fazia suas orações, mas se encontrava num dilema: queria a opinião do amigo para saber se o que pedia a Deus, naquele momento, estava correto. Era a sua “estrada de Damasco”. E assim ele se foi, deixando esse último exemplo de humildade. Que descanse em paz!

Henri Dias é advogado em Fernandópolis (henri@adv.oabsp.org.br)

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