quinta, 14 de novembro de 2024
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Análise revela substâncias tóxicas na água de cidades da região

Dados do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), do Ministério da Saúde, apontam a presença de substâncias químicas prejudiciais à saúde na água…

Dados do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), do Ministério da Saúde, apontam a presença de substâncias químicas prejudiciais à saúde na água de 21 cidades da região. Em Rio Preto, foi constatada a presença de níquel e mercúrio. Algumas substâncias são apontadas como cancerígenas.

O relatório foi elaborado pela Repórter Brasil, a partir de amostras coletadas entre os anos de 2018 e 2020 e fornecidas ao Sisagua pelas empresas responsáveis pelo abastecimento hídrico no municípios. Os dados mostram municípios em que a presença de substâncias está acima do limite tolerado. Em todo o País, 793 cidades estavam com presença acima do limite.

Em nove dos municípios pesquisados foi constatada a presença de cromo. O geólogo Carlos Eduardo Pacheco Cardoso acredita que a contaminação da água deve ser decorrente da falta de manutenção dos tanques subterrâneos dos postos de combustíveis.

“O cromo que está presente em combustíveis podem atingir as fontes de água. Por isto, há necessidade de fiscalização rígida nestes estabelecimentos, principalmente naqueles fechados, que por falta de cuidado podem prejudicar o meio ambiente”, alerta o geólogo.

Em amostras de quatro cidades da região foram encontradas a substância nitrato, o que pode ser decorrente do uso exagerado de fertilizantes de solo para agricultura, diz o especialista. Outra fonte de contaminação pode ser a falta de manutenção de cemitérios.

Para Carlos Eduardo, é preocupante o encontro de níquel e mercúrio nas amostras de águas de Rio Preto, porque são substâncias que não são facilmente encontradas em áreas urbanas. “A gente encontra muito mercúrio em rios próximos a regiões de garimpo de ouro. É altamente prejudicial à saúde. Não se pode nem comer peixes nestas regiões. Em Rio Preto, é necessário que a empresa de fornecimento de água faça uma pesquisa minuciosa para identificar as fontes destes produtos”, diz.

Carlos Eduardo diz que é necessário saber qual o tipo de mercúrio encontrado, o que pode ajudar a descobrir a fonte de contaminação. A exposição prolongada ao mercúrio afeta os rins e pode alterar o tecido testicular, aumentar as taxas de reabsorção e gerar anomalias no desenvolvimento.

A embriologista clínica e diretora de laboratório do Centro de Reprodução Humana de Rio Preto, Ligia Previato, alerta para riscos à saúde. “Todas essas substâncias químicas, incluindo os metais pesados, são prejudiciais à nossa saúde, chamamos essas substâncias de xenobióticos. Eles atuam diretamente na parte endócrina, neurológica, imunológica e reprodutiva”, afirma.

Posição

O Serviço Municipal Autônomo de Água e Esgoto de Rio Preto (Semae) nega a presença de níquel e mercúrio na água. “O Semae reforça que a água distribuída à população de São José do Rio Preto é segura e atende a todas as exigências da legislação, o que garante sua potabilidade”, informou o Semae.

Parte das cidades da região não forneceu dados ao Sisagua.

Os dados
O mapa foi feito com resultados de testes das empresas e instituições responsáveis pelo abastecimento de água nas cidades

Os dados integram a base de controle do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano, o Sisagua, do Ministério da Saúde

Foram divididos dois grupos de periculosidade pela Repórter Brasil, que fez o mapa, com base nas classificações dadas a cada substância pelos órgãos reguladores mais reconhecidos do mundo, como a OMS

Cidades com detecções acima do limite de segurança na água entre 2018 e 2020

Rio Preto

Substância com maior risco de gerar doenças crônicas, como câncer: NÍQUEL
Substância que também gera riscos à saúde: mercúrio

Cajobi

Substância que também gera riscos à saúde: Ácidos haloacéticos total e Trihalometanos Total

General Salgado

Substância com maior risco de gerar doenças crônicas, como câncer: CROMO

Ibirá

Substância que também gera riscos à saúde: Ácidos haloacéticos total

José Bonifácio

Substância com maior risco de gerar doenças crônicas, como câncer: CROMO

Mendonça

Substância com maior risco de gerar doenças crônicas, como câncer: CROMO
Substância que também gera riscos à saúde: bário

Meridiano

Substância que também gera riscos à saúde: bário

Mirassol

Substância com maior risco de gerar doenças crônicas, como câncer: CROMO

Mirassolândia

Substância com maior risco de gerar doenças crônicas, como câncer: CROMO
Substância que também gera riscos à saúde: bário

Nova Aliança

Substância com maior risco de gerar doenças crônicas, como câncer: CROMO

Olímpia

Substância com maior risco de gerar doenças crônicas, como câncer: CROMO
Substância que também gera riscos à saúde: bário e urânio

Palestina

Substância com maior risco de gerar doenças crônicas, como câncer: NITRATO
Substância que também gera riscos à saúde: mercúrio

Pereira Barreto

Substância com maior risco de gerar doenças crônicas, como câncer: NITRATO

Pirangi

Substância com maior risco de gerar doenças crônicas, como câncer: SELÊNIO
Substância que também gera riscos à saúde: Trihalometanos Total

Potirendaba

Substância com maior risco de gerar doenças crônicas, como câncer: CROMO

Rubineia

Substância com maior risco de gerar doenças crônicas, como câncer: NITRITO

Santa Adélia

Substância com maior risco de gerar doenças crônicas, como câncer: 2, 4, 6 TRICLOROFENOL
Substância que também gera riscos à saúde: Ácidos haloacéticos total e Trihalometanos Total

Santa Fé do Sul

Substância com maior risco de gerar doenças crônicas, como câncer: CROMO E CLORETO DE VINILA

Severínia

Substância com maior risco de gerar doenças crônicas, como câncer: NITRATO
Substância que também gera riscos à saúde: antimônio

Ubarana

Substância com maior risco de gerar doenças crônicas, como câncer: ARSÊNIO

Votuporanga

Substância com maior risco de gerar doenças crônicas, como câncer: CROMO
Substância que também gera riscos à saúde: Trihalometanos Total

Veja de onde vêm algumas substâncias

2, 4, 6 Triclorofenol: pode ser formada a partir do processo de desinfecção, quando o cloro é adicionado à água. Ela é utilizada como anti-séptico, agrotóxico para preservar madeira e o couro e como tratamento anti-mofo.

Arsênio: usado como descolorante, clareador e dispersante de bolhas de ar na produção de garrafas de vidro e outras vidrarias

Cloreto de Vinila: o seu principal uso é na produção da resina policloreto de vinila (PVC) na fabricação de tubos e outros plásticos, como revestimento e na manufatura de solventes clorados

Cromo: utilizado na fabricação de ligas metálicas e estruturas da construção civil. Compostos possuem diversos usos industriais, como tratamento de couro, preservante de madeira e na fabricação de tintas e pigmentos

MERCÚRIO: utilizado em processos industriais e na produção de outras substâncias químicas. Também são usados em rituais e para fins medicinais. O metilmercúrio, usado em garimpos para extração de ouro, é o mais tóxico

Níquel: utilizado principalmente na fabricação de aço inoxidável e na produção de ligas, baterias alcalinas, moedas, pigmentos inorgânicos e de próteses clínicas e dentárias

Nitrato: utilizado na fabricação de fertilizantes, conservantes de alimentos, explosivos e pela indústria farmacêutica na produção de medicamentos vasodilatadores

Nitrito: usado como conservante de carnes e embutidos, e também é encontrado na água potável, no solo, nos vegetais e em fertilizantes

Selênio: historicamente, o principal uso foi na indústria eletrônica como fotorreceptor para fotocopiadoras. Hoje, é utilizado em aço inoxidável, esmaltes, tintas, borracha, baterias, explosivos, fertilizantes, ração animal, produtos farmacêuticos e shampoos

Veja os resultados em https://mapadaagua.reporterbrasil.org.br/

De erro de digitação a contestação de dados
A Sabesp, responsável pelo abastecimento nas cidades de General Salgado, Rubineia e Meridiano, afirmou que a água tratada pela autarquia não está contaminada e que a legislação considera o consumo impróprio quando os testes forem recorrentes.

“Diferentemente do informado pela ONG Repórter Brasil, a água fornecida não é imprópria e cumpre a legislação para potabilidade.”

As empresas responsáveis pelo tratamento de água em Mirassol e Palestina, Sanessol e Esap, informaram por meio de nota que seguem os procedimentos de controle e vigilância da qualidade da água, que garantem potabilidade.

A Superintendência de Água e Esgoto de Olímpia (Daemo) informa que cumpre a legislação do Ministério da Saúde. “A autarquia é quem digita todos os resultados das análises da água no site do Sisagua. Verificamos que cometemos erros de digitação para os parâmetros bário, cromo e urânio. Portanto, não há contaminantes”, informa o órgão.

A Superintendência de Água, Esgoto e Meio Ambiente de Votuporanga (Saev Ambiental) afirma que não houve resultado com índice acima do permitido e analisa se trata-se de erro de digitação. “Quanto ao cromo, (…) alteração pontual foi verificada em um dos poços localizados no distrito de Símonsen. Imediatamente, as equipes técnicas da autarquia tomaram as providências necessárias”, informa a Saev.

A Prefeitura de Potirendaba informou que realiza manutenção preventiva no poço profundo e o problema foi resolvido. O engenheiro químico Paulo Henrique, de Mirassolândia, disse que na última análise não havia substâncias acima do limite na cidade.

O Departamento de Água e Esgoto de Pirangi afirmou que houve “pequena variação na quantidade de selênio” em 2019, mas que agora a água está de acordo com o permitido para o consumo humano.

O técnico responsável pelo Serviço de Água e Esgoto de Mendonça, Durval Adão Sabadin, diz que não tem conhecimento do levantamento e por isso não pode se pronunciar. O Diário não conseguiu contato com as prefeituras de Cajobi, Ibirá, José Bonifácio, Nova Aliança, Pereira Barreto, Santa Adélia, Santa Fé do Sul, Severínia e Ubarana. (MAS com Guilherme Santos)

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