sábado, 21 de dezembro de 2024
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Amistresse aí

A Black Friday começou mais black do que Friday pra mim hoje. Ainda que o significado da cor preta tenha sentido diferente no Brasil, em comparação com o inglês americano,…

A Black Friday começou mais black do que Friday pra mim hoje.

Ainda que o significado da cor preta tenha sentido diferente no Brasil, em comparação com o inglês americano, de onde vem a cópia carbonada dessa promoção, pois, para os americanos, estar no “black” (preto) é o mesmo que o estar no vermelho para nós brasileiros. De qualquer forma, eu também fiquei vermelho de raiva.

Na verdade, minha sexta começou muito bem, graças ao eterno sorriso matinal da minha filha, que sempre acorda alegre e, normalmente, batendo palma, com choro modesto, às vezes, somente para chamar a atenção para si, informando que está na hora de sair do berço, já que ainda não sabe falar, o que não a impede de se comunicar de outras inúmeras maneiras e de forma eficaz, obtendo o desejado, pois além de suas técnicas infalíveis de comunicação também conhece perfeitamente a freguesia, os babões chamados pais.

Apesar de uma manhã atarefada que teria pela frente, dentre todos afazeres, a redação do texto semanal desta coluna, cujo assunto já havia definido, sendo justamente falar do meu processo de paternidade, laureado pela comemoração do aniversário de um ano de minha filha, resolvi, antes de sentar na frente do computador, buscar um documento no centro da cidade. E lá fui eu.

Como estava apressado, em razão dos fatos relatados, o itinerário foi breve e certeiro. Seria, não fosse aquele minuto de bobeira, quando o homem lorpa, não aquele da raça humana, mais o espécime masculino, o mesmo néscio do paraíso, resolveu estender o trajeto meticulosamente traçado anteriormente.

Lembrei-me que na famigerada Black Fraude haveria uma promoção com desconte no preço do combustível para os clientes de uma certa empresa, que utilizam como forma de pagamento um determinado aplicativo para celular.

Nessa altura do campeonato, você deve estar tentando lembrar o nome do aplicativo e, caso tenha obtido sucesso mnêmico, devo esclarecer que qualquer semelhança com o título do texto é mera coincidência, melhor, devo advertir que “esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.”

Retornando ao meu trajeto, já estou com o carro ao lado da bomba de combustíveis. Certifiquei-me com o frentista sobre o desconto divulgado, o qual me confirmou, não havendo motivos para que eu duvidasse, pois, o nome dele era a própria certidão do brasileiro fiel, que devo omitir, por tratar-se de uma obra de ficção.

Tanque cheio, carro abastecido, só falta a parte difícil, pagar. Só não imaginava que desta vez seria tão mais difícil assim. Feitos os trâmites iniciais no caixa, eu abriria o tal aplicativo e, por meio dele, faria o pagamento.

Faria, do verbo, não teve jeito de fazê-lo. Primeiro foi necessário pela enésima vez digitar o código de acesso que seria encaminhado ao meu celular por mensagem de texto, o que não ocorreu, mesmo eu tendo solicitado no aplicativo o reenvio do código.

Nem código, nem acesso, a não ser aquele que quase estava para ter. Estava com pressa, atarefado, e o bendito (pela mídia) programa nada de logar. Nem o instalado em meu celular

nem mesmo no dos outros clientes, igualmente raivosos, ao meu lado no balcão do estabelecimento. A atendente até tentou auxiliar uma senhora a fazê-lo, sem sorte. O óbvio era mais óbvio que parecia, o aplicativo informava erro a cada tentativa em acessá-lo.

Provavelmente, além de mim, os demais milhares de brasileiros tiveram a mesma ideia de conseguir um desconto para poder reduzir o montante das despesas domésticas, afetado pelo valor dos combustíveis na terra brasilis.

Em vão. Em vão fui ao posto, em vão tentei ganhar desconto, em vão entrei e sai do aplicativo, em vão todos do balcão reclamaram, em vão foi quase toda minha manhã. Perdi dinheiro, porque foi preciso pagar de outra forma e perder o desconto anunciado. Caso contrário, estaria no posto até agora.

Perdi tempo, quase quarenta minutos, tentando acessar as funções da moderna forma de pagamento. Perdi a paciência, perdi a vontade, a inspiração, a concentração e a energia para escrever o texto sobre minha experiência paterna e a presença da minha filha.

A Black Friday, anunciada exaustivamente nos meios de comunicação, como oportunidade de lucros, foi só prejuízo pra mim. Não sei se a empresa responsável pelo programa de descontos no combustível tinha estrutura suficiente para fazê-lo funcionar no contexto de uma grande promoção, não se programou, ou aderiu à cópia tupiniquim daquela legítima campanha americana.

Ia me esquecendo, o código chegou, com um pequeno atraso de quase uma hora. Aliás chegaram todos os códigos que solicitei reenvio. Uma hora depois. Bem, se a empresa é capaz de atender pedidos de reenvio, será capaz de aprovar meu pedido de reembolso.

Quero de volta a importância perdida, já que os demais itens tomados de mim não serão passíveis de retorno sendo o tempo implacável. Graça a Deus, minha capacidade intelectiva foi grande colaboradora, me proporcionando a oportunidade de criar outro texto para a coluna, tendo aberto mão de outros afazeres, como almoçar.

Sou pobre, mas sou limpinho. Não sou nobre, nem sou mesquinho. Só não me estresse, porque reclamar pra mim é uma prece. Combinado não é caro, anunciar é não raro, cumprir com a obrigação não é reparo.

Nesta Sexta, foram quilômetros de desvantagens. A coisa quase ficou preta. Porém, a culpa não é minha, não fui eu que errei. Ah! Confesse aí! Não me estresse aqui!

Sérgio Piva

s.piva@hotmail.com

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