A maior certeza da vida é sua própria incerteza. Por mais que queiramos planejá-la ou controlá-la ela não nos é obediente.
As garantias de sucesso, e não me refiro aqui apenas ao aspecto financeiro, são tão voláteis como as garantias de insucesso. Ainda assim, ou exatamente por isso, tendemos a buscar portos seguros em nossa navegação pelas águas de nossa existência. Cada qual com a embarcação disponível no momento.
A busca da segurança é inerente ao ser humano. Buscamo-la física e metafisicamente nos mais diversos recursos externos possíveis: religião, bens materiais, conhecimento, amor, afeto, poder e tantos outros, tentando desenhar o mapa de nossa rota ou sondando uma explicação plausível para os desacertos e as inconstâncias do caminho.
Há muitos caminhos que levam a um mesmo destino e lugares diferentes pelos quais passamos por um mesmo caminho. Cada lugar pode trazer aprendizados, desde que o examinemos. Contudo, nem sempre as tarefas são agradáveis e quase nunca as estudamos com afinco. Os campos floridos são aprazíveis, mesmo assim, muitos não percebem sua variedade de cores. A vegetação seca traz desolação, mas também tem multiplicidade de cores. Até as areias do deserto refletem cores diversas.
A montanha parece muito mais desafiadora que o vale, porque a imagem que nos foi insertada é a de que o sucesso está no alto, em cima, no topo, como se a garantia da felicidade fosse comprar um apartamento no último andar, ao invés do primeiro. Existem palcos abaixo da plateia onde os artistas são aplaudidos. No cristianismo, a ideia é de que o paraíso está no céu e o inferno no subterrâneo. Mas o céu pode representar o vazio e o subsolo o germinar da vida. Em outras religiões os deuses também residem no alto, em algum Olimpo.
Todos buscam a segurança que vem do alto, seja ela Deus, alguém que julgamos melhor, mais inteligente, mais poderoso, o conhecimento, a filosofia, um cargo (lá em cima), a primeira colocação em uma lista qualquer, tudo que pareça estar acima de nós. Mas, como a vida é inconstante, a roda da fortuna continua girando e o certo vira incerto, o amor se transforma em solidão, a riqueza em insatisfação, a sapiência em frustração, o prazer em dor, dá outro giro e a noite vira dia, o inexplicável se transforma em sabedoria, a desilusão em amor, o metal em ouro, a indiferença em compreensão, a doença em redenção, e vai girando sem volta.
Confortáveis ou não, resta-nos continuar vivendo e, sobretudo, aprendendo, com o que está no alto, do lado, em baixo, atrás, mesmo que para nossas infinitas dúvidas haja pouca explicação.
Sérgio Piva
s.piva@hotmail.com
