Vinte dias depois de banir Marco Polo Del Nero por toda a vida de qualquer atividade ligada ao futebol, a Fifa ainda não apresentou aos advogados do brasileiro as explicações sobre como chegou à punição e nem mesmo quais foram os cálculos que levaram a entidade a aplicar uma multa financeira.
Na Fifa, a reportagem foi informada de que não existem prazos para a apresentação da fundamentação da decisão. Isso, na prática, impede que a defesa do ex-dirigente possa recorrer da punição.
Em 27 de abril, o Comitê de Ética da Fifa anunciou que baniu Del Nero, presidente afastado da CBF, de todas as atividades do futebol por toda sua vida.
Três anos depois de ter sua imagem atingida pela prisão de vários cartolas, em Zurique, a Fifa excluiu Del Nero, que estava envolvido no escândalo de corrupção e continuava sem uma punição por parte da organização. Além de banir Del Nero do futebol, a entidade aplicou uma multa de 1 milhão de francos suíços (cerca de R$ 4 milhões) ao ex-dirigente.
Del Nero não pode nem entrar na CBF para eventos sociais, não pode presidir clubes de futebol e nem fazer parte de organização de torneios. Ele foi punido por corrupção, por aceitar presentes de forma indevida e gestão desleal, entre outros crimes.
Naquele mesmo dia, seus advogados anunciaram que ele iria recorrer, tanto nas instâncias de apelação da Fifa como na Corte Arbitral do Esporte. Mas, para que possam preparar uma resposta, precisam contar com a fundamentação da decisão, o que até agora não foi apresentado.
A base do processo contra o ex-cartola foi o dossiê colhido nos Estados Unidos, pelo FBI, contra o brasileiro. No total, nove mil páginas de documentos foram enviados para a Fifa. Durante o julgamento de José Maria Marin nos EUA em dezembro de 2017, Del Nero foi acusado de ter recebido US$ 6,5 milhões (aproximadamente R$ 23,7 milhões, na cotação atual) em propinas, em troca de contratos comerciais com a CBF. Mas os advogados do ex-cartola insistem que a entidade gestora do futebol mundial jamais produziu sua própria investigação.
Os únicos documentos obtidos de forma independente pelo Comitê de Ética da Fifa teriam sido cartas que haviam solicitado à CBF e à Conmebol. O órgão pediu informações como o salário do dirigente na entidade brasileira e na associação sul-americana, assim como o número de contas utilizadas. O Comitê de Ética da Fifa ainda usou o fato de o ex-presidente da CBF não sair do Brasil como um elemento para definir sua punição permanente do futebol.
De forma totalmente sigilosa, o órgão da Fifa realizou uma audiência em meados de abril, em Zurique. Mas, segundo o Estado apurou, rejeitou o pedido de Del Nero para que participasse da reunião por meio de videoconferência. No início do processo, o dirigente foi autorizado a responder às perguntas de forma virtual, em uma reunião que durou cinco horas e meia.
Indiciado nos Estados Unidos desde dezembro de 2015, Del Nero não sai do Brasil. O risco de qualquer viagem para fora do País é de que ele seja preso e extraditado aos EUA, para ser julgado.
Mas, durante a audiência secreta que contou inclusive com a presença da investigadora Maria Claudia Rojas, a presidente do Comitê de Ética, a Fifa aproveitou a ausência do dirigente para destacar o fato de ele sequer poder fazer viagens ao exterior como um sinal de seus problemas legais. A versão foi imediatamente contestada por seus advogados, que o representaram na audiência.