segunda, 23 de dezembro de 2024
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Ainda preso a cordão umbilical, bebê passa por cirurgia inédita

Equipes médicas do Hospital da Criança e Maternidade (HCM), de São José do Rio Preto (SP), anunciaram nesta segunda-feira, 28, a realização de uma cirurgia inédita no Brasil para correção…

Equipes médicas do Hospital da Criança e Maternidade (HCM), de São José do Rio Preto (SP), anunciaram nesta segunda-feira, 28, a realização de uma cirurgia inédita no Brasil para correção de uma fissura na parede abdominal de um recém-nascido ainda ligado ao cordão umbilical.

A gastrosquise, como é chamada a fissura, deixa exposto o intestino da criança, tem alta incidência – atinge 4,6 em cada 10 mil recém-nascidos no País – e é mais comum em mães jovens.

A cirurgia é necessária para colocação do intestino e fechamento do abdome, mas pela primeira vez foi feita no Brasil com o bebê ainda no cordão umbilical, pelo método simile-exit. O método foi criado pelo cirurgião pediátrico argentino Javier Svetliza, que acompanhou e participou da cirurgia em Rio Preto. Médico do hospital José Penna, de Baía Blanca (Argentina), Svetliza realizou este tipo de operação em mais de 30 ocasiões. “Esta cirurgia reduz o sofrimento e o tempo de internação da criança, além de corrigir o problema com muito mais rapidez”, disse o médico.

Duas equipes com oito médicos, entre obstetras, cirurgiões pediátricos, anestesistas, instrumentadores e enfermeiros, em um total de 20 profissionais, foram mobilizadas para a cirurgia. Filha da estudante Ana Catarina Vitorino da Silva, de 15 anos, a recém-nascida Ingrid Rafaela, foi retirada do útero às 8h32, por cesárea, com 36 semanas de gestação. A mãe recebeu uma anestesia localizada que chegou ao bebê por meio do cordão umbilical e placenta. Os médicos ainda usaram um pirulito de glicose para manter o bebê calmo.

Em quatro minutos, Svetliza e os médicos do HCM recolocaram o intestino da criança e fecharam a fissura, de 1,5 centímetro. “Foi um sucesso, a fissura foi fechada e o intestino recolocado”, disse a pediatra Denise Lapa Pedreira, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), que acompanhou a cirurgia e intermediou a ida de Svetliza a Rio Preto.

A rapidez no procedimento é necessária para que não haja tempo de o bebê respirar e com isso as alças do intestino podem ser introduzidas no estômago com facilidade. “Ainda ligado ao cordão e a placenta, o bebê consegue ficar cinco minutos sem respirar”, explica Denise. Se o bebê respirar, o estômago enche de ar e dificulta a colocação das alças no estômago. Na cirurgia em Rio Preto, os médicos fizeram todo o procedimento dentro do tempo previsto – quatro minutos – com o bebê conectado pelo cordão umbilical.

Diferença. Nos procedimentos normais, são necessários pelo menos cinco dias só para se colocar as alças, com ajuda de uma bolsa de plástico, tempo em que o bebê fica separado da mãe, internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal. A internação demora entre 30 e 35 dias e o período de recuperação pode durar até três meses. “Na cirurgia simile exit, em 15 dias, período em que o bebê passa com a mãe, ele já pode receber alta”, diz Denise. Mas segundo ela, para que o bebê possa ser submetido a este tipo de cirurgia é necessário um acompanhamento muito próximo da gestação.

Segundo Denise, o diagnóstico da gastrosquise em Ingrid Rafaela foi feito ainda no segundo mês de gestação e desde então uma equipe multidisciplinar acompanhou o desenvolvimento do bebê para que a cirurgia pudesse ser feita no momento certo. “É uma cirurgia menos traumática para o bebê, mas é preciso saber qual o melhor momento para fazê-la”, diz. Na cirurgia convencional o recém-nascido é separado da mãe e a anestesia é feita na veia para introdução de cateter. “Em Rio Preto, a anestesia chegou ao bebê pelo cordão umbilical, livrando-o do sofrimento”, explicou o cirurgião pediátrico Humberto Liedtke, que participou da cirurgia.

Outra vantagem é que pela técnica o intestino do recém-nascido pode funcionar horas depois da cirurgia, permitindo que ele se alimente normalmente. “Na cirurgia convencional, há casos de bebês que levam até três meses para que o intestino volte a funcionar normalmente. A nossa expectativa é que o bebê inicie a alimentação parenteral em quatro dias e receba alta em duas semanas”, disse o obstetra Antonio Helio Oliani, que participou da operação. Na cirurgia convencional, a alimentação tem início em 20 dias e a alta leva 60 dias após o procedimento.

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