Uma das mais recentes tragédias do Afeganistão, que voltou às mãos do Talibã em agosto, com a finalização da retirada das tropas americanas, é o drama de famílias que estão vendendos os seus filhos para sobreviver em meio ao agravamento da pobreza e da crise humanitária no país da Ásia Central.
Como a história de Saleha, contada pelo “Wall Street Journal”. A moradora de Herat contraiu uma dívida tão intransponível que a única maneira de se livrar dela será entregar a sua filha de 3 anos, Najiba, a um homem que aceitou “ajudá-la” financeiramente. O credor se ofereceu no início deste mês para cancelar a dívida se ela entregar a menina.
A faxineira de 40 anos e seis filhos ganha o equivalente a R$ 3,85 por dia limpando casas em um bairro mais rico de Herat. Seu marido, muito mais velho, não tem nenhum trabalho. A dívida de Saleha está em R$ 3 mil.
Saleha e o marido trabalhavam em uma fazenda na província de Badghis, no oeste do país, mas há dois anos perderam essa renda devido aos combates na região e à seca. Então, eles pediram dinheiro emprestado apenas para conseguir comida. Na esperança de encontrar emprego, eles acabaram se mudando para um acampamento gigante de pessoas deslocadas de outras províncias, conhecido como Shahrak Sabz, em Herat.
A tomada de poder pelo Talibã fez o governo dos EUA congelar US$ 9 bilhões (cerca de R$ 50 bilhões) em ativos do banco central afegão e interromper a maior parte da ajuda externa. Com o sistema financeiro e o comércio paralisados após a recoquista do país pela milícia fundamentalista, os preços de alimentos básicos como farinha e óleo dobraram desde meados de agosto.
Cerca de 95% dos afegãos não estão recebendo o suficiente para comer, de acordo com o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas. Quase toda a população afegã de 40 milhões de pessoas pode cair abaixo da linha da pobreza nos próximos meses, de acordo com a ONU.