Foi dramático, e não poderia ser diferente. Argentina e Uruguai fizeram mais uma partida que entrou para a História do clássico do Rio de Prata.
No tempo normal houve empate em 1 a 1, mas nos pênaltis, a Celeste venceu por 5 a 3. A mística do 16 de julho – dia do Maracanazo – prevaleceu de novo, agora os argentinos conhecem a dor de perder em casa nesta data cabalística.
Entre um drible e outro, um carrinho mais firme. Entre uma assistência e outra, uma dividida mais forte. Assim foi o duelo entre as duas escolas mais antigas da América do Sul. A técnica dividindo espaço com a rudeza. Os nervos à flor da pele, apaixonante, tal qual um tango de Gardel.
Os uruguaios começaram melhor a partida, e abriram o placar logo aos cinco minutos. Em um levantamento na área argentina, Forlán desviou para Diego Pérez marcar. As recordações de 16 de julho se aviviam mais.
Seria dia do Uruguai? A data cabalística se confirmaria? Pois Messi tentou negar os questionamentos até o momento. O jogador do Barcelona fez excelente jogada pelo lado direito e cruzou, o passe genial foi na cabeça de Higuaín, que por ironia joga no rival Real Madrid. A cabeçada foi com força, sem chance para Muslera.
Messi estava mesmo a fim de jogo, chamava a responsabilidade. Gritava e vibrava como que para dar uma resposta àqueles que dizem que o melhor jogador do mundo não tinha raça.
Logo depois do gol, o camisa 10 mais uma vez deixou Higuaín na cara de Muslera. O atacante marcou, mas o gol foi corretamente anulado por impedimento.
No entanto, a bola aérea era um tormento para a defesa da Argentina. Foi por ali que os uruguaios mais assustaram a equipe de Sergio Batista.
Primeiro foi no lance em que Forlán cruzou, Romero saiu mal, a bola tocou no travessão, e Cáceres marcou. No entanto, o uruguaio estava impedido.
Poucos minutos depois, outra bola no travessão de Romero. Mais uma vez Forlán cruzou, e desta vez Lugano definiu na barra. Para alívio dos argentinos, Diego Pérez acabou sendo expulso por fazer uma falta grotesca no volante Gago, ainda em seu campo de defesa.
Só que o jogador a menos não fez o Uruguai mais débil. Pelo contrário, a ausência de Pérez era suplantada pela dedicação dos outros 10 jogadores. A raça e a valentia uruguaia minuto a minuto foi prevalecendo no segundo tempo. A mística da Celeste ganhava forças.
O Uruguai passou a criar as melhores chances, principalmente com os perigosíssimos Luis Suárez e Forlán. No entanto, a melhor chance da segunda etapa foi argentina. Messi, mais uma vez, lançou para Higuaín. O atacante fez o giro e bateu forte, Muslera fez grande defesa.
A partida seguia tensa, com entradas mais duras. Em uma delas, Mascherano acabou sendo expulso e deixou os times em igualdade numérica. No banco Loco Abreu comemorou a expulsão.
Sergio Batista resolve lançar Tévez no lugar de Agüero. E o jogador do povo quase decretou a classificação da Argentina no tempo normal. Em uma falta cobrada com violência, Muslera fez uma excelente defesa. Daquelas para ver e rever. No rebote Higuaín tentou e o arqueiro uruguaio apareceu de novo, no melhor estilo Rodolfo Rodríguez para impedir o gol.
O jogo estava tão em aberto que o Uruguai ainda teve uma última chance. Luis Suárez encontrou um espaço de dois centímetros próximo à linha de fundo, e passou pelo defensor argentino. O atacante cruzou e Forlán cabeceou para fora. Os 90 minutos nervosos acabaram e o clássico foi para a prorrogação. O tango seguiria por mais 30 minutos.
No tempo extra as chances rarearam, mas quando aconteciam eram para matar o torcedor do coração, como o tiro na trave de Higuaín. E o que dizer do chute de Forlán, que passou raspando a trave com 14 segundos do segundo tempo da prorrogação?
Oscar Tabárez resolveu mudar a postura da sua equipe e colocar dois volantes. Entraram Gargano e Eguren nas vagas de Alvaro Pereira e Arévalo Rios. A Argentina passou a jogar mais no campo de ataque, e Muslera continuou a ser um paredão. Parou o disparo de Pastore, depois o avanço de Messi. O gol, porém, teimou em não sair e depois de 120 minutos o tango gardeliano continuaria nos pênaltis.
Tal qual no tango ‘Por Una Cabeza’ os uruguaios surpreenderam nos pênaltis. Tévez, o ‘jogador do povo’, perdeu a sua cobrança. Muslera se confirmou como herói ao defender o pênalti. Cáceres converteu a última e deu a vitória à Celeste. O peso da camiseta uruguaia prevaleceu, a mística do 16 de julho também.
Agora, o Uruguai chega às semifinais contra o Peru. E alcança essa fase com moral, que pode levá-lo ao título da Copa América.
FICHA TÉCNICA:
ARGENTINA 1 (3) X 1 (5) URUGUAI
Estádio: Brigadeiro Estanislao López, Córdoba (ARG)
Data/hora: 16/07/2010 – 19h15 (de Brasília)
Árbitro: Carlos Amarilla (PAR)
Auxiliares: Nicolás Yegros(PAR) e Luis Sanchez (VEN)
Cartões amarelos: Diego Pérez (URU), Cáceres (URU), Alvaro Gonzalez (URU); Zabaleta (ARG), Mascherano (ARG), Gabriel Milito (ARG), Burdisso (ARG), Gago (ARG), Tévez (ARG)
Cartões vermelhos: Diego Pérez (URU), Mascherano (ARG)
GOLS: Diego Pérez 5’/1ºT (0-1), Higuaín 18’/1ºT (1-1)
ARGENTINA: Romero, Zabaleta, Burdisso, Gabriel Milito e Zanetti; Gago (Biglia 6’/1ºP), Mascherano e Messi; Agüero (Tévez 38’/2ºT), Di María (Pastore 27’/2ºT) e Higuaín. Técnico: Sergio Batista.
URUGUAI: Muslera, Maxi Pereira, Lugano, Victorino (Scotti 19’/1ºT) e Cáceres; Alvaro González, Diego Pérez, Arévalo Rios (Eguren 4’/2ºP) e Alvaro Pereira (Gargano 4’/2ºP); Forlán e Luis Suárez. Técnico: Oscar Tabárez.
Fonte:Jornal LANCE!