Apoiadores radicais do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de Rio Preto e região participaram de atos violentos neste domingo, 8, em Brasília, com invasão e destruição dos prédios que representam os Três Poderes que constituem a democracia brasileira: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Eles se juntaram a uma multidão, oriunda de várias partes do País, que se dirigiu à Capital Federal. As ações que provocaram perplexidade e reação no Brasil e no Mundo começaram por volta das 15h. Além da Praça dos Três Poderes, parte dos extremistas invadiu o Palácio do Planalto, a sede do Congresso Nacional e o prédio que abriga o Supremo Tribunal Federal (STF).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que estava em Araraquara, interior de São Paulo, determinou intervenção federal no Distrito Federal e cerca de 1,5 mil pessoas foram levadas para a Polícia Federal, segundo comunicado do Ministério da Justiça. Até o início da noite desta segunda, 9, havia 209 pessoas presas.
Um ônibus de Rio Preto foi apreendido em Brasília. Outros veículos, fretados em Votuporanga e Nhandeara, também foram apreendidos. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, foram localizados nesta segunda, 9, ao menos 55 veículos que transportaram radicais até a Capital Federal.
O Diário apurou junto a apoiadores do ex-presidente em Rio Preto que pelo menos oito ônibus partiram da região com destino a Brasília. Seis deles saíram na noite de sexta-feira, 6, e outros dois no sábado, 7. Vídeos divulgados em redes sociais pelos próprios integrantes das caravanas também mencionam essa quantidade de veículos, o que representa em torno de 350 pessoas da região na invasão da capital nacional.
‘Ninguém sai’
Emerson Santos, 50 anos, morador de Rio Preto que estava no acampamento em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, afirmou ao Diário que o local estava “bloqueado” na manhã desta segunda. “Ninguém entra e ninguém sai da Praça dos Cristais, na frente do QG (do Exército). Está tudo bloqueado. Estão levando pessoal para fazer triagem na Polícia Federal e provavelmente serão todos presos na Papuda (presídio federal)”, disse.
‘Invadimos’
O empresário de Votuporanga Kingo Takahashi participou da invasão na Praça dos Três Poderes e vídeos dele foram divulgados em redes sociais. “Invadimos o Congresso. Vamos derrubar os bandidos. Vamos acabar com os vagabundos. Isso é melhor que show de rock”, afirmou na postagem.Também há fotos dele dizendo que está dentro de banheiro e outra sentado em um sofá, cujo local não é identificado. Nesta segunda, 9, também circulou em grupos de WhatsApp e redes sociais que ele estaria detido em Brasília e pedindo ajuda, por meio de PIX, para pagar fiança. A reportagem entrou em contato com Kingo, mas ele não respondeu mensagem encaminhada em seu celular.
Selva
Outas postagens de moradores da região foram divulgadas sobre o ato de domingo. Entre elas, a da rio-pretense Katia Graceli, conhecida como agente cultural. “Lindo ver nossos patriotas. Povo de Americana, Rio Preto. Tamo junto”, divulgou. “Não para de chegar patriota. Quem achou que Brasília não ia bombar tá louco. Aqui é selva”, afirmou em outro vídeo.
Sem saber
Ademir Ronda, dono de uma das empresas locadora de ônibus que levaram moradores de Rio Preto para manifestação que resultou em quebradeira afirmou que não sabia o objetivo da viagem. “Se soubesse o que eles iriam fazer, eu não tinha alugado”, disse.
O ministro do STF Alexandre de Moraes determinou a “prisão em flagrante de todos os envolvidos nos atos criminosos decorrentes de prédios públicos federais” na noite de domingo. Também determinou desmobilização de bolsonaristas da frente de quartéis do Exército.
Dois com prisão preventiva
O advogado Augusto Cesar Mendes Araujo, de Rio Preto, foi contratado na manhã desta segunda-feira, 9, para defender dois moradores da cidade suspeitos de participarem dos violentos atos em Brasília. Segundo o Diário apurou, as duas pessoas que o advogado defende tiveram prisão preventiva decretada após audiência de custódia na Polícia Federal de Brasília. Os nomes não foram revelados.
“Fomos contactados na manhã de segunda-feira para defender dois moradores de Rio Preto. Um deles até aparece em um vídeo no lado de fora do Palácio do Planalto. Vamos nos inteirar do caso”, afirmou o advogado.
Augusto César diz que a equipe de advogados de seu escritório foi acionada ainda para assessorar um grupo de manifestantes da cidade de Sinop, no Mato Grosso, também por causa dos atos golpistas em Brasília.
“Com relação a esses dez clientes de Sinop, a gente foi acionado por um escritório de advocacia daquele estado, com quem temos parceria em processos. Fomos chamados para ajudar no caso destas pessoas”, disse o advogado.
Lotado
Com 1,5 mil detidos levados para a PF, a corporação em Brasília teve que improvisar. A s instalações da Superintendência para onde geralmente são levados os presos não tinha como receber o grupo que estava acampado no Quartel General do Exército. Agentes da PF informaram que farão uma “linha de produção”, com a triagem dos advogados. Os defensores que têm clientes com crianças tiveram prioridade de atendimento.
PRF apreende ônibus de protesto
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Rio Preto apreendeu um ônibus nesta segunda-feira, 9, com bolsonaristas radicais que participaram de atos violentos em Brasília e estavam a caminho de casa. O veículo foi levado para a sede da Polícia Federal de Rio Preto.
Os passageiros, em torno de 45 pessoas, foram qualificados (fichados) e liberados em seguida. São moradores das regiões de Bauru e Botucatu. Após o procedimento padrão, o ônibus foi liberado, pois estava com documentação regular.
Segundo o inspetor da PRF Fávio Catarucci, policiais abordaram o veículo na praça de pedágio de Onda Verde. Os passageiros afirmaram que estavam participando dos atos golpistas em Brasília, inclusive alguns deles teriam participado da invasão que resultou em quebradeira ao prédio do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Com base nessas informações, e isso já confirmado, pois muitos mostravam marcas roxas nas pernas, provocadas pelo confronto com a Polícia Militar, e com base nisso, nós trouxemos para a Polícia Federal, onde eles serão qualificados, fotografados e cada um deles será identificado conforme a sua participação nos atos golpistas”, diz o porta-voz.
As apreensões de ônibus com manifestantes também aconteceram em estradas federais do Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Paraná. O efetivo da PRF está estrategicamente distribuído em um “cinturão viário” que compreende as principais rodovias de acesso à capital federal.
De acordo com a PRF já na noite de domingo, 8, a atuação da corporação resultou na apreensão de 25 ônibus particulares que foram fretados para transportar os extremistas até a capital federal.
Os veículos abordados e itens apreendidos são encaminhados aos órgãos responsáveis pelas investigações, e ficam à disposição da justiça.
DEPOIMENTOS
Repudio veementemente qualquer tipo de manifestação que atente à nossa democracia. As pessoas contrárias devem ser punidas por desrespeitar a Constituição, invadindo e depredando o espaço público.
Edinho Araújo, prefeito de Rio Preto
Repúdio às invasões e depredações nas sedes dos Poderes, em Brasília. São atos que confrontam a nossa democracia. Manifestações, divergências e críticas fazem parte do estado democrático, mas essas cenas criminosas e de baderna, não. O respeito à constituição está acima de tudo.
Carlão Pignatari, deputado estadual pelo PSDB e presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo
A invasão aos três poderes da República realizada hoje é um ataque à nossa Democracia e precisa ser repudiada por toda a sociedade. O respeito à nossa constituição deve prevalecer sempre.
Itamar Borges, deputado estadual pelo MDB
Em nome da Câmara Municipal de São José do Rio Preto, repudio com veemência qualquer tipo de ataque ao Estado Democrático de Direito. Manifestações de pensamento e ideias são livres e garantidas pela Constituição Federal. Mas não podemos compactuar com atos que promovam a violência, a baderna e o vandalismo. Que os responsáveis pelos ataques aos três Poderes da República são identificados e punidos nos rigores da lei.
Paulo Pauléra, vereador pelo PP e presidente da Câmara de Rio Preto
Defenda a liberdade de expressão e informação, mas nunca a depredação do patrimônio público, o vandalismo e o controle do ódio. O Brasil precisa seguir em frente, crescer, gerar emprego, renda, ampliar as relações internacionais e o empreendedorismo. A democracia e a constituição devem caminhar lado a lado para garantir o desenvolvimento do nosso país.
Luiz Carlos Motta, deputado federal pelo PL
As cenas de vandalismo, depredação do patrimônio público e de grave ameaça às instituições preservadas demonstram o retrocesso vivido em nosso país. Acredite na democracia, no debate de ideias, na sociedade livre, justa e solidária, mas repudio toda e qualquer violência e afronta aos poderes. Teremos um Brasil melhor com criatividade construtiva, cultura empreendedora e respeito às nossas leis.
Geninho Zuliani, deputado federal pela União Brasil
Parte dos brasileiros foram enganados pela propaganda populista bolsonarista, que por 4 anos endeusaram o “Messias” como sendo o cristão nacionalista honesto que salvaria o Brasil do “comunismo”.Exatamente igual a Trump, Bolsonaro perdeu a eleição, não aceitou o resultado democrático das urnas, e joga seus favorecidos contra os poderes constituídos democraticamente.Isso é atentado contra a democracia.É lamentável ver nossos irmãos enganados por mentiras repetidas a exaustão, e agora como ato final da decepção, vão a Brasília e devem voltar rapidamente pra casa totalmente frustrados, ao cairem na real que o presidente eleito tomou posse (está governando), é que foram vítimas de uma pressão, enquanto o ex-presidente Bolsonaro goza férias na Flórida.Minha modesta opinião.
Fausto Pinato, deputado federal pelo PP
Vale lembrar que o terrorismo explícito é apenas a parte mais histriônica do fascismo nacional. Essa grita e quebradeira tem formuladores, colaboradores e financiadores. Muitos deles estão dando declarações de repúdio para disfarçar os olhares. São hipócritas e canalhas, escorpiões da democracia.
João Paulo Rillo, vereador e presidente estadual do Psol
Condenando os atos de violência e a invasão da sede dos poderes em Brasília, foi uma ação inaceitável. Todos esses atos merecem investigação e punição severa.
Valdomiro Lopes, deputado estadual eleito pelo PSB
A Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB) e a Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp) reafirmam sua confiança nas instituições democráticas e repudiar as cenas ocorridas neste domingo, quando manifestantes promoveram atos de vandalismo em Brasília. A depredação das sedes dos Três Poderes da República atenta contra instituições do Estado Democrático de Direito, que devem ser protegidas. As instituições devem funcionar normalmente e priorizar o enfrentamento do desafio maior de promover o desenvolvimento, gerar empregos e garantir a tranquilidade e justiça social para todos os brasileiros. Somente com democracia forte estimularemos a livre-iniciativa e o desenvolvimento da economia nacional.
Kelvin Kaiser, presidente da Acirp
Um ato terrorista, criminoso, de pessoas que querem enfrentar o Estado Democrático de Direito. Não conseguirão. E, além disso, serão responsabilizados e punidos no rigor da lei, como já está ocorrendono dia de hoje.
Beth Sahão, deputada estadual eleita pelo PT
Os atos violentos e causadores de danos ao patrimônio público devem ser combatidos com firmeza, mas com herança e equilíbrio, na forma da Lei. A constituição garante a manifestação febril. Quando se ultrapassa esse limite, os atos passam a ser crime. No caso, além do crime de danos, podemos ter o crime de tentar impedir o funcionamento livre dos poderes da República. Chama a atenção o fato de que a lei antiterrorismo no Brasil excluiu expressamente atos violentos com fins políticos. Isso aconteceu pela força dos partidos de esquerda, quando da aprovação da lei antiterrorismo em 2016, preocupados que estavam em não criminalizar manifestações de rua. Em 2021 até se tentou mudou r isso, mas novamente houve resistência.
Sérgio Clementino, promotor de Justiça