sexta-feira, 20 de setembro de 2024
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A ZPE por ”água abaixo”

Muito se tem especulado sobre a viabilidade da Zona de Processamento de Exportação para Fernandópolis, a chamada “ZPE Paulista”. Uma política pública dessa monta demanda dezenas de milhões de reais…

Muito se tem especulado sobre a viabilidade da Zona de Processamento de Exportação para Fernandópolis, a chamada “ZPE Paulista”.

Uma política pública dessa monta demanda dezenas de milhões de reais para sua implementação, nesse sentido, alguns aspectos logísticos devem ser observados para garantir o investimento e a execução do projeto. Primeiramente, existe a tese de que Fernandópolis está longe dos grandes centros industriais e por isso não teria condições de agregar os recursos econômicos atrativos para um perfil industrial e exportador.

Nesse aspecto, é evidente que estamos longe dos grandes portos nacionais, no entanto, isso não impediu e não impede a exportação de commodities e o desenvolvimento de vários estados e cidades no interior de nosso país que se encontram em condições similares a nossa.

A pergunta que devemos fazer é: quais serão os aspectos logísticos para escoamento da produção de nossa ZPE? Em relação às ferrovias, muitos vislumbravam a utilização da ferrovia Norte-Sul para tal intuito, no entanto, esse projeto é de 1987 e a mesma acaba de ter trechos de sua construção interditados pelo TCU em Tocantins. Outras linhas alternativas podem ser estudadas para levar a produção até o porto de Santos, como a linha paulista ou linha oeste da America Latina Logística.

Vamos escoar por Rodovias? A vantagem de Fernandópolis e do estado de São Paulo é que a nossa malha rodoviária é admirável em relação ao resto do país, sendo assim, há menos custos qualitativos e acessórios em relação às outras rodovias nacionais. O destino seria o mesmo: o Porto de Santos.

Vamos escoar por hidrovias? Por mais que pareça fora de nossa realidade, os projetos de hidrovias estão caminhando para estar mais articulados. O motivo é o óbvio, a eficiência dessa malha é significativamente superior.
Comparativamente o custo do frete para o transporte de cada tonelada por uma distância de mil km é, em média, R$120,00, R$80,00 e R$40,00, para o transporte rodoviário, ferroviário e hidroviário, respectivamente. Além desse custo mais barato, o transporte hidroviário consegue levar o referente à 9 vagões ou 35 carretas em uma só barcaça.

Fernandópolis

Fernandópolis possui uma vantagem em relação ao transporte hidroviário. Nós estamos a algumas centenas de quilômetros da hidrovia mais bem estruturada do Brasil, com terminais em Araçatuba, Pederneiras e Andradina.
No entanto, a desvantagem é que além da hidrovia não levar a produção até o Porto de Santos, necessitando a troca do modal por rodoviário ou ferroviário perto da barragem de Barra Bonita, é que muitos terminais de cargas ao longo da hidrovia são particulares e para outros fins, como transporte de grãos e materiais de construção, ou seja, dependendo da carga da ZPE, seria necessária a adaptação do modal e uma parceria com o operador.

Enfim, para se pensar na viabilidade da ZPE Paulista, devemos pensar no ponto de vista do investidor e para isso, devemos analisar os custos e operabilidade da mesma, dando condições de funcionalidade.

Do ponto de vista logístico são essas as nossas alternativas. No entanto, até o presente momento pouco foi falado em relação a execução do projeto em si, pouco se tem buscado analisar as condições econômicas para implementá-la, existe muita exploração política do projeto e pouca exploração laborativa do projeto.

Se vamos, de fato, acreditar no projeto da ZPE em Fernandópolis é obrigação da sociedade e do poder público levantar tais debates, viabilizar tais ações, arquitetar o empreendimento, para isso, precisa ter carga, precisa ter viabilidade econômica.

O conceito de custo geográfico é relativo em relação ao conceito de custo econômico na área de logística de transporte, por isso, o primeiro passo para a fundamentação da ZPE é deixar de lado as conversas ao “pé do ouvido”, a exploração política, e de fato, arregaçar as mangas e tirar o projeto do papel.

O planejamento e a vontade administrativa são fundamentais, do contrário estaremos condenados sempre a ver esse projeto ir, não por hidrovias ou outro modal, mas sim definitivamente por “água abaixo”.

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