Nós, os pescadores, que jamais mentimos (?!), temos na região um ponto comum de interesse e de histórias: – a imensa Hidrelétrica de Água Vermelha( primeiro nome ),com a Usina, Barragem e seu lago; é a última do Rio Grande, iniciando geração de energia em 1978.
Quem conheceu a área original, a chamada “Cachoeira dos índios”, atesta que o conjunto natural de Tombos/Cachoeiras, tais como “das Andorinhas”, “dos Dourados”, “das Três Pedras”, “da Fumaça”, “Véu de Noivas”, “Caldeirão do Inferno” etc., era deslumbrante, com riquíssima fauna e flora, e de fantástica piscosidade.
Só a conheci em 1979 e, nesta época, mesmo represada, era ainda sinônimo de jaús, piaus, piaparas, dourados, barbados, caranhase, especialmente, “daqueles” que sempre arrebentavam nossas linhas (o maior sempre escapa, né?).
Conheço bem aquela área: as corredeiras, a Ilha, o Esporão, o Braço Morto, o Paredão, o Buracão, o Vertedouro, entre tantos locais pitorescos. Sem dúvida, é uma área e obra humana portentosas, impactantes e, para os não-frequentadores, até assustadoras.
Ali, na década de 90, a descoberta de ossadas humanas próximas à barragem, datadas em cerca de mil anos, causou muitos comentários, curiosidades e reportagens, inclusive pela imprensa nacional. Pesquisadores da USP – paleontólogos, antropólogos etc. trabalharam na prospecção, demarcação e reconstituição do sítio arqueológico; um Museu foi criado em Ouroeste para expor os materiais e utensílios, e detalhes dessa civilização pré-colombiana. Merece ser visitado.
Para fugir de polêmicas científico-religiosas (e mascarar minha ignorância sobre isso…), digamos que a Natureza dotou cada Ser Vivo do tal “Instinto”: – atributos para garantir sua sobrevivência, procriação, perpetuação da espécie etc. Há, também, preceitos morais e religiosos esclarecendo que cabe à espécie Homem “domar” a Natureza, extraindo ou aproveitando-se dela para gerar o decantado e necessário progresso.
Tudo perfeito? Da parte da Natureza, sim. E do considerado “ápice” da Criação, o Homem?
– Cabe repensar a forma como está “domando-a”! Sendo o único animal “racional”, não deveria usar esse potencial para aliar e alinhar o Progresso à Responsabilidade perante a Natureza e para com os nossos irmãos “irracionais”, zelando por este bendito Lar Cósmico chamado Terra?
Contra o Progresso? Não!!! Contra a Irresponsabilidade e o Imediatismo, especialmente nos últimos 50 anos,que estão destruindo o equilíbrio vital do Éden que nos foi ofertado para desfrute e preservação. Após o nascimento da Mãe-Terra, o nosso Ninho demorou “apenas” 5 bilhões de anos para ser esculpido. Simplificando: Estamos destruindo em 50 anos algo que demorou um tempo 100 milhões de vezes mais para ser construído!
Retornando à área da Hidrelétrica, imaginemos… qual não seria o choque e a tristeza dos homens ‘incivilizados’, que há mil anos lá viveram, se vissem o que fizeram com aquele seu pedaço de mundo? Como membro da civilização atual, tenho um medo imenso: o que será que deixaremos para ser descoberto ou visto daqui a mil anos? Talvez pouco ou quase nada no que se refere à preservação do Planeta, de nossa e de outras espécies.
Assusta-me pensar que, miseravelmente, essa realidade talvez já valha para daqui 100 ou até mesmo 10 anos…
Assim, é possível que estudiosos do ano 3.000 ou 4.000 descobrirão que, em uma região entre os chamados “Estados de São Paulo e Minas Gerais”, havia uma grande hidrelétrica, cujo nome era “Água Vermelha”, e aí perguntarão: – Por que Água Vermelha? – Talvez cheguem à conclusão que a maior razão é que os homens da época se ‘avermelharam’ de vergonha e/ou de arrependimento, ao perceberem o que fizeram com aquele pedaço de paraíso, ‘sangrando’ de morte até a própria água, berço e alimento das riquíssimas e variadas vidas que ali existiam!
Jesiel Bruzadelli Macedo
Jesielbruzadelli@gmail.com
