domingo, 22 de dezembro de 2024
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A cidade da gente

Um amigo meu olhava contemplativo e absorto para a imagem de um quadro na parede como se fosse possível ser transportado para dentro daquela paisagem. Ela mostrava o recorte de…

Um amigo meu olhava contemplativo e absorto para a imagem de um quadro na parede como se fosse possível ser transportado para dentro daquela paisagem.

Ela mostrava o recorte de uma praia ladeada por um mar de águas verdes transparentes de um lado e, de outro, uma casinha simples, com telhado de palha, rodeada por densa vegetação.

Em um dado momento, meu amigo inspirou fundo e, em seguida, soltou o ar dos pulmões pela boca fazendo barulho. Um quase-sopro, como se fosse possível cuspir seu desalento por estar do lado de fora daquela imagem. Imaginei tal sensação depois de suas palavras, quando conseguiu desgrudar o olhar do quadro e pular para fora daquela paisagem paradisíaca, divagando também em achismo sobre qual seria o melhor lugar do mundo para viver.

Sem querer ser desmancha prazer e sendo ao mesmo tempo, respondi que quem fosse que morasse naquela casinha talvez estive de saco cheio daquele mar translucidamente verde, bem como de toda aquela calmaria e, quem sabe, nunca tivesse notado ou fizesse ideia de que pudesse estar morando em um tipo de paraíso.

Assim é a cidade da gente, um paraíso para quem está fora e, às vezes um lugar chato para quem está vivendo nela. Isso acontece por dois motivos: ou não nos apercebemos daquilo que tem de bom em nossa localidade, cegados pela rotina e pelo “caminho da roça” que percorremos diariamente, sem mudar quase nunca o trajeto nas andanças casa-trabalho-mercado-mesmolugardediversão, ou porque, realmente não gostamos da cidade onde moramos. Nesse segundo caso, não se trata da cidade da gente.

A cidade da gente é nossa cidade natal ou a cidade que escolhemos para morar ou ainda aquela pela qual nos apaixonamos. Pode ser a cidade natal onde moramos ou aquela que nos deixa ansiosos para um reencontro quando moramos em outro lugar.

Tem gente para a qual a cidade natal é seu eterno lar, por escolha própria ou decisão do destino. Isso pode fazer a diferença entre o paraíso e o “saco cheio” mencionados anteriormente.

Muitas pessoas já moraram em tantas cidades que já são cidadãos do mundo. O que não exclui a possibilidade de terem a cidade deles, no coração, na saudade ou na lembrança.

Outras tantas sequer colocaram os pés fora do seu município desde que nasceram. Acreditem, isso acontece em grande quantidade, de maneira assustadora para os cidadãos do mundo e na maior normalidade para aqueles que vivem no seu paraíso particular ou em sua fadada prisão.

A cidade da gente é aquela que parece nossa casa. Aquela para onde sempre queremos retornar, depois de algum tempo fora. Aquele lugar que nos traz segurança (ao menos no plano das ideias). É o lugar para onde queremos voltar algum dia. É como a sombra larga de uma árvore sob a qual queremos deitar. É nossa tabebuia florida da cor que eu quiser imaginar.

A cidade da gente é aquela que todo mundo que mora nela pode até falar mal, só não pode fazer o mesmo o morador de qualquer outra cidade, principalmente se for vizinha. É como família, só pode criticar que faz parte dela.

Minha “cidade da gente” foi onde nasci e adolesci. Foi onde chorei e sorri. Onde trabalhei e cresci. Minha cidade é aqui. Foi a cidade que escolhi.

Por isso quando faz aniversário eu também comemoro, agradeço e oro. Junto as mãos porque com ela me desenvolvi e rogo para que se torne árvore frondosa, para que sua sombra possa dar o refrigério que a alma de seus filhos necessita, que seu tronco seja o esteio de muitas vidas e suas flores possam brotar em sinal de vitória.

Seja em 1º de janeiro ou 22 de maio, quero sempre cumprimentar a terra de Fernando, Sérgio, João, José, Maria, Júlia, Beatriz, Camila e Cecília.

Parabéns Fernandópolis.

Sérgio Piva

s.piva@hotmail.com

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