O jornalista e radialista Sérgio Dias (Lobão) foi enterrado na tarde de ontem, às 16h30, no Cemitério Nossa Senhora do Carmo. Faleceu aos 79 anos de idade de morte natural. Uma de suas maiores paixões era a música clássica e erudita, da qual deixa uma das maiores coleções já registradas em Catanduva.
Lobão participou da época do rádio em que foram revelados grandes locutores e comentaristas em Catanduva. Um grande amigo seu, também falecido, o também jornalista Lecy Pinotti, era companheiro de rádio e de jornadas pela área rural do Município, onde exibiam filmes numa espécie de cinema ambulante. Lá pelos idos da década de 60 era novidade o cinema ambulante nos sítios e colônias de fazendas.
Funcionário aposentado do Estado, Lobão trabalhou na Rádio Difusora e no jornal O Regional, na época de Warley Agudo Romão e Gérson Gabas. Simples, de poucas palavras, foi revisor de jornal e redator de coluna jornalística de longa data. Não gostava de falar de sua experiência nos meios de comunicação e, muito menos, da coleção que tinha de CDs e DVDs de músicas de grandes mestres clássicos e eruditos.
Poliglota, não gostava de dizer que sabia muitas línguas. Um grande entendedor de música erudita, não dizia uma palavra sequer sobre o assunto. Raramente, fazia alguns comentários sobre cantores e cantoras de óperas. Luciano Pavarotti não constava em seu arquivo de grandes tenores contemporâneos. A soprano Maria Callas também não entrava no rol de ídolos do Lobão.
O refinado gosto de Lobão tinha razão de ser. Não importava o valor, todos os lançamentos da atualidade em música clássica e erudita vinham direto da Europa para ele. A Europa é o berço dos cantores líricos do mundo. Em seu quarto, milhares de títulos perdiam-se aos olhares dos visitantes. Para entender o gosto musical de Lobão, e ter diálogo com ele, era preciso saber alguma coisa sobre o assunto. Caso contrário, ele mantinha o ‘papo’ agradável do cotidiano.
Da época de Lobão, de homens que além dos meios de comunicação tinham o dom do conhecimento das artes, citam-se Lecy e Diomar Ziviani.
O lobo do rádio
Luiz Roberto Benatti
He was an old man who fished alone in a skiff in the Gulf Stream and he had gone eighty-four days now without taking a fish. Sérgio Dias era velho como o velho Santiago de O velho e o mar de Ernest Hemingway.Não me lembro de que tivesse gosto por pesca, mas, como Santiago, era um solitário ou, sem o constangimento de parecer sofisticado, um melômano, amante da música clássica, em especial a ópera. Seu Gulf Stream ficava na Avenida 24 de Fevereiro, para onde ele remava ou caminhava a pé todos os dias, ida e volta, aprumado há 30 ou 40 anos, meio trôpego nos últimos anos.Os 84 dias de retorno à casa sem peixe foram para ele os dias de baixa remuneração na atividade de jornalista ou revisor de jornal. Ele parecia dizer: desde que me paguem o bastante para eu comprar o último cd, está bem. Por que iria ele querer mais se a vida e o destino não lhe deram o gosto da grana pela grana: O muro fronteiro da casa da avenida era baixo e, dia e noite, seu portão estava aberto para quem quisesse entrar, bater caixa e ouvir ópera. Depois da morte de Lecy Pinotti, Sérgio deve ter cultivado um buraco no peito.Eles se completavam. Sérgio foi o diretor da antiga ZYD-5/Rádio Difusora de CTV que, num certo dia de penumbra da ditadura de 64, foi convidado a fechar-lhe as portas. Bom sujeito, Sérgio fez como a voz mandava e, quando a emissora reabriu a porta de entrada da Rua 13 de Maio, já pertencia a outro dono.Não se engane: a vida é cheia de pequenos delitos de ordem politicossocial! Sérgio Dias, o lobo do rádio, pendurou o chapéu no cabide e voltou para o magistério e a direção de escola. Lobão era mestre e, como seu discípulo, mando-lhe um forte abraço e a lembrança do grande Caruso.
