domingo, 10 de novembro de 2024
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Entre a teoria e a prática

A vida é coisa válida. Válida porque se pode com ela construir um mundo melhor e se deve; válida, porque na prática quase tudo resta a ser edificado. É sempre…

A vida é coisa válida. Válida porque se pode com ela construir um mundo melhor e se deve; válida, porque na prática quase tudo resta a ser edificado.

É sempre necessário estarmos atentos para o que já houve antes de nós, porque seria demasiada pretensão pensarmos que as coisas estão começando conosco e que, antes de nós, nada havia e que somos os predestinados para realizar aquilo que nossos antecessores não foram capazes.

Nossa função é continuar mudando, não pelo simples prazer de mudar, mas, aconselhando e alterando o modificar. O verdadeiro progresso se realiza num plano continuo ascendente, sem jamais perder o contato com o pensamento dos antigos, sem um salto sobre o abismo que nos separa das coisas tentadoras.

Conservar por conservar é tão perigoso como inovar por inovar e conservar o que é bom, é relegar o que é mau ao esquecimento, sempre há de se considerar, no entanto, que nem tudo por mais que queiramos possa ser mudado.

Numa época em que se faz sentir interesses materialistas, as preocupações subalternas em que os pregões demagógicos visam subverter a hierarquia de valores; numa época em que o culto ameaçador do existencial, fruto de uma sociedade consumista e hedionista, vinculada a idéia do trinômio ter, poder e fazer, vem dia-a-dia, mais e mais se consolidando; numa época em que se nota a deteriorização da ética em geral em todas as áreas profissionais e nos políticos em sua grande maioria; numa época em que o declínio do direito, o enfraquecimento da moral e o abandono da religião (ou substituição das tradicionais religiões por seitas e crendices que se multiplicam) constituem objeto de sérios debates e justificadas preocupações, somente o restabelecimento da consciência nacional sobre a escala de valores e normas superiores – sociais, morais, políticas e religiosas – entre as quais figuram as do bem, da verdade, do direito, da justiça, do respeito à dignidade humana e a caridade ordenada para consigo mesmo e para com o outro, de amor fraterno, da liberdade responsável, da equidade e do valor absoluto do bem moral, somente assim, alicerçado em tais fundamentos, poderia ter assegurada a sobrevivência de forças capazes de antepor óbice aos impactos dos falsos profetas do materialismo, dos reducionistas, dos que pregam a ânsia de viver sem finalidade ética, o culto exagerado do existencial, de que o sentido e os valores não passam de mecanismos de defesa e de formação advindas por reação, de que o homem só existe para satisfazer as suas próprias necessidades para atingir o seu equilíbrio interior, condicionando a filosofia a uma certa forma de viver, desvinculada do sentido profundo das coisas e da própria vida.

*Leonardo Scarlate Cunha é advogado em Fernandópolis-SP

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