sexta-feira, 20 de setembro de 2024
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Sobre “a terra do nunca fica pronto”

A revista Época dessa semana traz reportagem especial contando “a saga da construção do Estádio Mané Garrincha”, em Brasília. Sob o título “a terra do nunca fica pronto”, a reportagem…

A revista Época dessa semana traz reportagem especial contando “a saga da construção do Estádio Mané Garrincha”, em Brasília. Sob o título “a terra do nunca fica pronto”, a reportagem mostra em detalhes como as obras públicas no Brasil são “delirantes, demoradas e absurdamente caras”.

Saído das pranchetas durante o regime militar, o Mané foi projetado para ser um estádio olímpico com capacidade para 140 mil pessoas; inaugurado a toque de caixa, em 1974, para “apenas” 42 mil espectadores, nunca mais ficou pronto, até porque nem havia necessidade disso tudo, já que em Brasília os times de futebol são praticamente amadores e a maioria dos jogos conta com menos de cem torcedores nas arquibancadas.

Não bastasse isso, em janeiro de 2007 o então governador José Roberto Arruda (aquele que foi preso e renunciou para não ser cassado) decidiu pela demolição do velho Mané e pela construção de outro com orçamento estimado em cerca de R$ 700 milhões. Achou muito? Vai ficar pior quando você souber que a reconstrução já custou mais de R$ 1,5 bilhão e o estádio deve ser inaugurado no próximo dia 18 de maio, com o clássico entre os times do Brasília e do Brasiliense.

O exemplo do estádio é apenas uma pequena demonstração de como o dinheiro e as obras públicas são (mal) tratados no país. Projetos malfeitos, licitações irreais (ou surreais, como queiram), aditamentos, decisões judiciais liminares e corrupção, dentre outros tantos males, formam uma perversa combinação.

A maioria dos projetos é feita de forma apressada, muitos deles destinados a ficar prontos em ano eleitoral. Graças às licitações malfeitas, passando pelo excesso de bur(r)ocracia e questões jurídicas mal resolvidas, surgem aqui e acolá os malfadados “aditamentos” de contratos. É só um pulinho, já que as empresas ganham as concorrências por um preço menor, cientes de que, iniciada a obra, poderão alegar que o custo é bem maior que o previsto e os governantes aditarão os contratos em até 50% nos casos de reformas de edifícios ou equipamentos. Simples assim e quem paga essa conta somos nós, os incautos.

Casos como o estádio de Brasília existem aos montes espalhados pelo país afora. Se fosse só com os estádios, ainda seria tolerável, embora reprovável. O problema maior é que ferrovias, portos, aeroportos, usinas elétricas e rodovias com orçamentos bilionários e obras se arrastando lentamente não causam mal só aos cofres públicos.

Fazem mal ao progresso e impedem o crescimento do país em todos os setores. Até quando?

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