Todos os que militamos no meio jurídico fomos surpreendidos com o passamento do Oficial de Justiça Antonio Leal da Silva. Toninho Leal, como era carinhosamente conhecido e tratado, deixou esse plano.
Perdemos todos. A família perdeu o marido dedicado e pai zeloso e apaixonado pela esposa e as filhas. A cidade perdeu um dos seus mais ardorosos defensores e a “usina de boas idéias” que ele representava. Por sua vez, os colegas de trabalho perderam o líder combativo e propositor incansável de melhorias para a classe. Já os amigos do bate-papo que invadia a madrugada perderam o conselheiro da vida. Momentos como esse nos levam a refletir e nos deixam uma única certeza: a cidade ficou mais pobre de líderes.
Quando dizemos que uma pessoa é líder, não nos referimos somente àqueles que administram a cidade ou exercem cargos políticos. Tampouco àqueles que têm a representatividade de órgãos de classe ou entidades. Para ser líder, nada disso é preciso. Uma pessoa pode ser o chefe de um grupo e não ser o seu líder, porém, pode ser o líder de seu grupo sem ser o seu chefe. Essa era a síntese do nosso Leal, que sempre fez jus ao sobrenome e nunca se rendeu ao sistema que tanto combatia. Aliás, com perdão do trocadilho, a lealdade sempre foi seu norte, até a morte.
A fala tranqüila não impedia a firmeza na defesa de suas convicções, porém emoldurava um cidadão pronto a ajudar na luta dos mais fracos, sempre levando uma palavra de consolo e esperança àqueles que precisavam, fosse em lugares humildes ou suntuosos, ou onde se fizesse necessário buscar justiça.
Não, não se diga que não tinha defeitos, todos o temos, e isso é o grande diferencial do ser humano, aprender a conviver com os seus defeitos e os defeitos do próximo, coisas que o Leal conseguiu fazer com maestria. Por isso, nunca é demais realçar tudo o que ele sempre teve de bom. Não bastasse, o mais admirável era que conseguia circular em todos os segmentos, desde o meio jurídico onde militava, passando pelos campos político e religioso, sempre acrescentando algo em suas intervenções pontuais.
Algumas perdas calam fundo em nossa alma. Mesmo sem nunca ter freqüentado sua casa ou tê-lo recebido na minha, posso dizer que perdi um amigo, porque havia sintonia em nossos pensamentos e posicionamentos, ainda que estivéssemos em lados opostos, e não foram poucas essas ocasiões.
Vou sentir falta das visitas ao escritório nos fins de tarde ou das ligações fora de hora, sempre intercedendo em favor dos outros e preocupado com o futuro de nossa cidade. Guardadas as devidas proporções, isso é óbvio, sua trajetória tem semelhança bíblica.
Leal foi um bom soldado e poderia afirmar com a sua tranqüilidade característica que encerrou sua passagem dizendo “combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Desde já me está reservada a coroa da justiça, que me dará o Senhor, justo juiz, naquele dia”. Vai com Deus, Leal!