Pensar no desenvolvimento de uma cidade, no contexto do mundo moderno, significa pensar em dar condições para o avanço da mesma. Primeiramente, se formos pensar em empreendedorismo a responsabilidade do poder público é muito grande. A política municipal deve perpassar por incentivo à formação de distritos industriais, feiras, exposições de fomento ao comércio local, além da própria execução de programas de educação empreendedora nas instituições de ensino.
Cada cidade deve possuir sua própria especificidade. A teoria das vantagens comparativas prevalece no cenário de desenvolvimento de um ciclo produtivo eficiente, ou seja, cada governante deve, em primeiro lugar, saber claramente qual é o perfil produtivo de seu município e, com isso, desenvolver, juntos aos atores locais, políticas específicas para otimizar esse perfil, adquirindo vantagem comparativa a cadeia produtiva da região. Um caso típico, que leva as vantagens comparativas são os Arranjos Produtivos Locais.
Os Arranjos Produtivos Locais (APL), conforme a própria definição oficial são aglomerações de empresas, localizadas em um mesmo território, que apresentam especialização produtiva e mantêm vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais, tais como: governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa.
Apesar dos municípios, em nosso atual desenho federativo, possuírem poucos recursos, há algumas políticas que podem ser implementadas e articuladas pelo poder público para ajudar a aquecer o mercado e transformar em um polo de atração regional. Dito isso, podemos analisar algumas cidades vizinhas e fazer uma singela autocrítica construtiva.
Votuporanga
O Programa de Incentivo à Logística do Arranjo Produtivo Organizado de Votuporanga e Região atuou no desenvolvimento da cadeia produtiva do setor moveleiro. O objetivo traçado foi de garantir a sustentabilidade do crescimento econômico através da modernização da infraestrutura industrial, da capacitação da mão de obra e do reflorestamento regional. A reforma dos parques industriais, que foi iniciada em meados de 2001, viabilizou o escoamento da produção e crescimento da produtividade.
Birigui
Birigui, devido a diversos fatores, se concretizou com um perfil calçadista. No entanto, ao invés das empresas atuarem sozinhas ou se “devorarem”, o poder público auxiliou e coordenou a criação, em 2006 do Arranjo Produtivo Local (APL), que teve como objetivo aumentar a competitividade das micro e pequenas empresas integrantes do projeto por meio de consultorias em áreas como gestão, produção, acesso a mercado e exportação.
A meta do APL de Birigüi foi de aumentar em 10% o volume de pares comercializados, além de aumentar a lucratividade em 6%, expandir o volume
de pares exportados em 4% e reduzir o custo da produção em 5%, resultados que foram obtidos através da organização e planejamento dos interesses do setor produtivo local.
Araçatuba
Apesar do perfil tradicional da agropecuária, a prefeitura de Araçatuba desenvolveu o Projeto de Apoio à Criação de Cooperativas. Tal projeto buscou fomentar a criação de cooperativas de trabalho e produção nos diversos bairros periféricos da cidade.
Resultado: estão vinculados os cadastros de 374 famílias que obtêm um rendimento médio de R$ 300 para cada cooperado. O projeto conseguiu implantar 9 cooperativas: Coopeata (Cooperativa de Embalagem de Araçatuba); Coopran (Cooperativa Recicladora Amigos da Natureza); Coop-Iris (Cooperativa de Trabalho do Ramo Calçadista de Araçatuba); Coopepsut (Cooperativa de Trabalhadores do Jardim São José); Coopvest (Cooperativa de Vestuário); Cooperaçá (Cooperativa de Produção de Roupas). Projetos que além da garantirem a renda para muitas famílias, promovem a cooperação e a capacitação de seus membros.
Fernandópolis
Apesar das várias iniciativas em prol da recuperação econômica do município, a cidade ficou por muito tempo parada em seu ciclo de planejamento. As rupturas políticas penalizaram demais os projetos a médio e longo prazo.
Um exemplo claro é a falta de infraestrutura adequada para o parque industrial, as mudanças de muitas empresas do setor moveleiro e a própria falta de incentivos para Arranjos Produtivos Locais. Fora isso, ainda prevalece uma lógica avessa à da cooperação, princípio matriz de uma política para o surgimento dessa política de Arranjo Produtivo Local.
As cidades citadas, conforme mencionado, possuíram um planejamento, coordenação e continuidade com os diversos entes sociais e poderes locais para a viabilidade dos projetos que hoje são dignos de aplausos.
O que nos resta agora é retomar o mapeamento dos principais perfis e caminhos, como no caso do campo educacional (com as universidades), buscando mais recursos e agregando especializações e parcerias à estrutura já firmada.
Como no caso do Distrito Industrial que poderia ser reestruturado e receber mais atenção, principalmente nesse momento em que vivenciamos a duplicação da Rodovia Euclides da Cunha, melhorias nas marginais próximas à cidade, e a própria vinda da Ferrovia Norte-Sul facilitando a logística de transportes e escoamento.
Por fim, a Prefeitura e a Câmara de Vereadores, possuem o dever inafastável de promover a conciliação dos interesses locais e apontar para um eixo estratégico de desenvolvimento a médio e longo prazo, buscando recursos por meio de convênios e fundos com o governo federal, estadual e Parcerias Público-Privadas (PPPs).
O planejamento estratégico de Fernandópolis necessariamente perpassa pela articulação do poder público e político, e, devido a isso, a responsabilidade do desenvolvimento ou definhamento da cidade é enorme, algo que pode ser sanado com um levantamento sério dos caminhos que possam nos levar ao nosso desenvolvimento.
