sexta-feira, 20 de setembro de 2024
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“Aviso para a galera”

Antes do aviso, algumas curiosidades, como as do lançamento do meu “Não Tem Erro” no sábado passado. Obrigado a todos que puderam comparecer. E compareceram. Obrigado também aos que não…

Antes do aviso, algumas curiosidades, como as do lançamento do meu “Não Tem Erro” no sábado passado. Obrigado a todos que puderam comparecer. E compareceram. Obrigado também aos que não puderam comparecer, mas compraram o livro depois.

Além dos amigos, fiquei muito feliz quando soube que meus irmãos que moram fora de Fernandópolis viriam para o evento e, mais que suas presenças, trariam presentes!

Um deles, o caçula, trouxe-me uma incrível relíquia da história de tempos imemoriais contada por Tolkien em “O Senhor dos Anéis”: Andúril, a espada de Aragorn, filho de Arathorn, a mesma que, quando ainda se chamava Narsil, empunhada por Isildur, cortou da mão de Sauron o Um Anel. Apesar da idade, estava muito bem conservada. Mas a relíquia era apenas para a contemplação, pois não me seria dada. Meu presente seria outro.

Com certo suspense, meu irmão revelou-me um objeto cuja história estava ligada a Andúril, então Narsil, mas muito mais poderoso. Como um presente inestimável, recebi de meu irmão o Um Anel, forjado pelo próprio Sauron na Montanha da Perdição, em Mordor, o qual passou a Isildur, então a Gollum, a Bilbo e, finalmente — não tão finalmente assim — a Frodo. Sim, caro leitor, sua dúvida também foi a minha: “Mas o Gollum não o destruiu?” Bobagem. Destruiu nada. Ele reapareceu.

E o mais importante: agora era meu, só meu. Meu precioso…
Para honrar meu irmão, fui ao lançamento com o presente. Eu podia sentir parte de seu poder: “Um anel para a todos governar…”
No meio do lançamento, um menino se maravilhou com o que eu portava no dedo da mão direita. Aproximou-se, fez perguntas, quis tocá-lo. No fim, suspeitoso, perguntou por que eu não ficava invisível enquanto o usava, como Frodo. Foi então que fui obrigado a contar-lhe, baixinho, toda a verdade — escondida desde a minha infância.
— Sou descendente de Tom Bombadil. O Um Anel não me afeta.

Ele saiu a passos lentos, boquiaberto, assombrado, distanciando-se aos poucos até sumir na multidão do shopping, como um Nazgûl. Não é uma revelação fácil de ser assimilada, mas…
É isso.

Pois o fato de eu não ficar invisível só tem essa explicação. Ou, então, de duas, uma: eu sou realmente descendente de Tom Bombadil ou… Esse anel foi feito na China.

***

Vamos ao aviso.
AVISO.

A todos aqueles que ainda acreditam em Papai Noel, políticos (vivos ou finados), no Coelhinho da Páscoa — e que ele bota ovos de chocolate —, promessas de campanha, que o uísque do Paraguai é autêntico, no SUS, na previsibilidade da economia, no que eu digo — e escrevo —, que foi o Verissimo que escreveu aqueles textos da internet, no Homem-Aranha, que a Rita Cadillac, a Gretchen e a Monique Evans são bonitas, no disfarce do Super-Homem como Clark Kent, que aquilo que saía da mão da Jubileu — de “X-Men” — era um poder mutante de verdade, na seleção brasileira — de futebol, fique claro —, que o Lula não sabia — nem nunca soube — de nada, que a “Zorra Total” é engraçada, na Marina Silva como salvadora da pátria, que o Aécio vai conseguir fazer meio por cento do que ele promete, que a Dilma fez maravilhas no País e ainda fará tantas outras se reeleita, que Votuporanga é um por cento do que os votuporanguenses dizem, no boi da cara preta, que o Brasil tem jeito, essas coisas.

A todos aqueles do tempo em que se usavam penteadeiras, orelhões de ficha e cartão, telefone — e internet — discado, em que o Renan Calheiros e o Paulo Skaf eram carecas — e o Geraldo Alckmin e o José Serra, não —, em que o Lula tinha todos os dedos, a Dilma parecia mulher, Rogéria ainda era “Astolfo” e Roberta Close era “Luís Roberto”, o Michael Jackson e a Anitta tinham nariz, a Miley Cyrus era menininha, o Didi era engraçado, do tempo em que farmácia era com “ph”, guaraná era de rolha, existiam — e eram usados — o K7 e o LP, a máquina de escrever e o mimeógrafo, a pena e o nanquim no dia a dia, do tempo em que se tinha pé de fruta e fruta no pé, em que as crianças brincavam de verdade e usavam as próprias imaginações, ralavam o joelho, andavam de bicicleta e carrinho de rolimã, trepavam em árvores, roubavam goiaba do vizinho, acreditavam no homem do saco, no bicho-papão, em professores, livros e outras lendas do tipo, do tempo em que éramos felizes sem o Facebook, Whatsapp e as “selfies”, em que se cozinhava sem nada industrializado — ou ao menos se cozinhava —, em que ainda se ouvia o que os avós diziam e as histórias que contavam, em que surra de cinta — e trabalhar com os pais — era educação, não crime, do tempo em que livro era livro, e não e-book, a missa era em latim, essas coisas.

A todos esses, um aviso: o mundo continua o mesmo. Não mudou p. nenhuma.

Por O. A. SECATTO

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