sexta-feira, 20 de setembro de 2024
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Tiraram o bode da sala

Nem bem assumiu a presidência da casa, o Deputado Eduardo Cunha “meteu os pés pelas mãos” e anunciou medidas que provocaram grande alegria nos deputados e uma onda de preocupação…

Nem bem assumiu a presidência da casa, o Deputado Eduardo Cunha “meteu os pés pelas mãos” e anunciou medidas que provocaram grande alegria nos deputados e uma onda de preocupação em todos nós, os pobres mortais brasileiros.

Uma das medidas previa que a Câmara passaria a pagar as passagens aéreas dos maridos ou esposas dos deputados. Com a reação contrária imediata e a saraivada de críticas que se seguiram ao anuncio, o presidente recuou e informou que a pretensão seria descartada, até mesmo numa tentativa de se mostrar um homem aberto ao diálogo e propenso a ouvir a voz do povo.

Na verdade, o que o nobre deputado fez, única e exclusivamente, foi “tirar o bode da sala”. Para aqueles que não conhecem a história do bode na sala, explico. Resumidamente, de acordo com o anedotário, “se as coisas vão mal, coloque um bode fedorento dentro de casa; passados alguns dias, ao tirar o bode haverá uma falsa impressão de que algo melhorou”. Foi isso o que efetivamente aconteceu.
O nobre deputado criou um factóide, tão somente para experimentar a reação popular, que foi imediata, como seria óbvio. Ao mesmo tempo, foi implantando outras medidas que também são impopulares, porém, vão passando despercebidas em razão da repercussão do caso das passagens aéreas.

Querem ver? Enquanto isso, seguem andando outras iniciativas destinadas a beneficiar e agradar os parlamentares, que resultarão num custo extra de 150 milhões de reais por ano. Isso sem contar no projeto esdrúxulo que prevê a construção de um novo prédio anexo à Câmara e inclui até mesmo (pasmem!) a construção de um shopping center.

O preço da megalomania? Mais de um bilhão de reais, porém, segundo ele, com recursos da iniciativa privada, que iria explorar o empreendimento.
Alguém duvida de que será igual às obras da Copa? Se alguém esqueceu, as obras da Copa também seriam custeadas com recursos privados e no fim das contas foram todas promovidas com recursos públicos, preços astronômicos, estourando todos os orçamentos e escancarando casos absurdos de corrupção.

A assunção do deputado carioca trouxe à minha memória um presidente da Câmara com as mesmas características, eleito, na época, com o apoio maciço do chamado “baixo clero” e afrontando o governo a todo instante. O nome dele era Severino Cavalcanti. O final da história é conhecido de todos: renunciou à presidência e ao mandato para não ser cassado, após uma série de trapalhadas.

A batata do atual presidente já está assando e a pergunta que não quer calar é uma só: tirar o bode da sala vai resolver?

Henri Dias é advogado em Fernandópolis (henri@adv.oabsp.org.br)

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