sexta-feira, 20 de setembro de 2024
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Sobre a Val. Reminiscências

Fiquei sabendo que a professora Val, da Escola Saturnino, teve deferida sua aposentadoria e não podia deixar passar essa oportunidade de prestar uma singela homenagem a ela. Augusto Cury disse…

Fiquei sabendo que a professora Val, da Escola Saturnino, teve deferida sua aposentadoria e não podia deixar passar essa oportunidade de prestar uma singela homenagem a ela. Augusto Cury disse que “professores são mestres da vida”. É a mais pura verdade.

Estudei a minha vida toda em escola pública. Primeiro, o grupo em Estrela D´Oeste, depois, o ginásio no JAP, e por fim, o colegial no Saturnino. Nessas escolas minha curiosidade foi aguçada e despertada por vários mestres que me ensinaram o que a vida ajudou a lapidar. Um deles foi muito importante para que hoje eu pudesse olhar para trás e ver que valeu a pena: a Val.

Naquele tempo, estavam no Saturnino, dentre outros, a Maria e o Carlão e os cigarros intermináveis de ambos, o Amauri e sua cultura refinada, o Zé Asmar e a sua Geografia sem lógica e na direção da escola o Jesus Meleiro e as suas histórias maravilhosas. Porém, quem mais encantava era a Val e sua química, com o perdão do trocadilho.

A Val era toda menininha, de calças jeans, tênis e camiseta, os meninos tinham uma “quedinha” por ela, aquele amor platônico, aluno e professor, sabe como é. Ela ia explicando a tabela periódica com aqueles nomes todos e eu pensava “pra que serve isso, meu Deus”?, “onde eu vou usar isso”? Ela tanto insistiu que uns tais Mendeleiev e Lavoisier se tornaram figurinhas carimbadas no meu dia a dia. Parecia até que moravam aqui em Fernandópolis.

Quando cheguei ao Saturnino, em 1982, prestes a completar 15 anos, vinha de uma realidade completamente diferente. Aliás, o ginásio e o colegial eram mundos completamente diferentes. As matérias do colegial eram diferentes, os professores do colegial eram diferentes. No ginásio, éramos moleques. No colegial, achávamos que seríamos homens. É claro que essa transformação não ocorre de um ano para o outro, mas só a partir do momento em que passei a conviver com a Val é que fui perceber isso.

Nós éramos muito animados, uma turma que gostava de conversar e dar risada, porém muito criativa e estudiosa, com algumas exceções é claro (o Formiga era a maior dessas exceções…). A Val aos poucos foi ganhando a nossa confiança e se tornou a mãezinha da nossa turma. Mãezinha pela sua estatura, é claro, porque quando precisava tratar como moleque, esculhambava com a gente, esculachava na lata.

Quanta “carcada” eu levei da Val. Porém, aquelas broncas só fizeram aumentar meu respeito e minha admiração por ela, especialmente porque quando precisava passar segurança para aqueles pequenos homens em formação, a Val assumia essa função e fazia isso com uma naturalidade incrível.

Quando os problemas se amontoavam e já não era mais possível “segurar o rojão”, a família entrava na parada e aí a coisa ficava preta. Mesmo nessas horas, a Val fazia isso com maestria. A palavra do professor era sempre a mais esperada, a mais respeitada. Aliás, naquele tempo, o professor era respeitado tanto pelos alunos, quanto pelas famílias. Os governos, então, morriam de medo das mobilizações dos professores e das greves, porque os mestres tinham o poder e a condição de mobilizar a sociedade. Naquele tempo em que grevista era considerado subservivo, a Val era nossa subserviva preferida.

Hoje, ao saber de sua merecida aposentadoria, vivo esse momento com um sentimento ambíguo, felicidade e tristeza.

A felicidade se justifica porque olho para trás e vejo que aquela foi a melhor época da minha vida, que ali eu vivi os meus melhores momentos e a Val teve participação ativa na minha formação e de tantos outros que passaram pelas suas mãos. Aliás, ela nunca deixou de fazer isso, seja na escola, seja fora dela, ombreando o nosso bom e velho Granela e mitigando as dificuldades de pessoas menos favorecidas pela sorte. A tristeza é porque esse tempo não volta mais, infelizmente.

Quando fecho os olhos e vejo, num flash back, o filme da minha vida, lá está a Val, imortalizada de calça jeans, camiseta e tênis, eterna mestra da minha vida.

Quero aproveitar esse momento e te agradecer, Val, por todo o amor com que você sempre tratou e ainda trata, até hoje, a educação. Sei que nessa sua tarefa, assim como tantos outros, você gastou os melhores anos de sua vida, mas tenha certeza de que valeu a pena. Sem pessoas como você, o mundo seria muito pior. Receba os meus aplausos!

Henri Dias é advogado em Fernandópolis (henri@adv.oabsp.org.br)

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