sexta-feira, 20 de setembro de 2024
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Maquiavelismo à brasileira

Nicolau Maquiavel é praticamente uma unanimidade entre os estudiosos da ciência política. Sua obra prima é considerada a base da política moderna. Resumidamente, “O príncipe” ensinou que “o mal deve…

Nicolau Maquiavel é praticamente uma unanimidade entre os estudiosos da ciência política. Sua obra prima é considerada a base da política moderna. Resumidamente, “O príncipe” ensinou que “o mal deve ser feito de uma só vez, ao passo que o bem deve ser feito aos poucos e quem governa deve ser temido pelos adversários e amado por quem é o responsável pela sua manutenção no poder — o povo”. Virou livro de cabeça de políticos poderosos pelos quatro cantos do mundo, assim como “o pequeno príncipe”, de Saint Exupéry era o livro de cabeceira das misses e dali surgiu a expressão maquiavélico, que se relaciona a esperteza, astúcia ou à maldade, sem contar as inúmeras lições para os políticos aprenderem a “dura” arte de se manter no poder.

Esse breve preâmbulo remete ás votações que estão acontecendo nos últimos dias. Dentre tantas outras bizarrices, a Câmara dos Deputados aprovou, nessa semana, o mandato de cinco anos para todos os cargos eletivos no país e tudo leva a crer que vai aprovar a coincidência das disputas, num mesmo ano, numa única data.

Para não me alongar demais, é fácil concluir que os nossos deputados estão completamente dissociados da realidade e por isso cresce, cada dia mais, a ojeriza da população aos seus representantes. Pior é concluir que os maiores culpados somo nós, os eleitores, que votamos de qualquer jeito, sem levar em conta o passado ou a história dos candidatos. Enfim, caso seja mantida essa decisão, o Congresso estará fazendo o caminho inverso, onde no mundo todo se prega maior participação e interação entre políticos e cidadãos.

Segundo Eduardo Cunha, nosso “príncipe” de plantão, e também seus devotados seguidores, “muitas eleições “atrapalham” a vida do país, pois “tudo para em anos eleitorais”. Ledo e ivo engano. O que atrapalha a vida dos brasileiros são os eduardos cunhas da vida, os renans calheiros espalhados aqui e acolá, os eternos severinos cavalcantis que não enxergam um palmo além do umbigo e só pensam em encontrar maneira de perpetuação no poder. Nas democracias consolidadas, há eleições todos os anos e isso não traz nenhum prejuízo para o país ou para a democracia. Muito pelo contrário.

A verdade é uma só: nossos deputados estão seguindo ao pé da letra a velha máxima daquele que foi maior discípulo de Maquiavel. Segundo Lampedusa, “tudo deve mudar para que tudo fique como está”.

Ninguém mais se lembra das manifestações de junho de 2013, que cobravam moralidade na política. Também não há nenhuma proposta que trate da redução do número de deputados e ou de senadores. Muito menos que limite o número de reeleições dos nossos congressistas, que com isso vão se eternizando no poder.

Embora ainda haja tempo para modificações no Senado (o que não se acredita, pela obviedade), nunca é demais lembrar que uma das manifestações maquiavélicas dizia que “os príncipes que não percebem os ventos da mudança e não mudam seu modo de proceder têm um destino certo: a ruína”. Essa é a nossa esperança. Que assim seja!

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