A viúva Porcina foi um dos maiores personagens das novelas brasileiras. A história contava que ela havia se casado com Roque Santeiro poucos dias antes dele voltar à sua cidade natal e morrer. Em razão disso, ficou conhecida como “aquela que foi sem nunca ter sido”. A história guarda semelhança com o atual momento vivido pelo PMDB no governo federal, “aquele partido que saiu do governo sem nunca ter saído”.
A cúpula do partido promoveu, durante a semana, um espetáculo midiático, anunciando que todos os seus sete ministros e centenas de assessores de vários escalões entregariam seus cargos imediatamente, para mostrar que estavam desembarcando do governo da presidente Dilma.
Porém, passados alguns dias, o que temos? Exceto o ministro Henrique Alves, um dos fiéis escudeiros do vice presidente Michel Temer, ninguém ainda entregou os cargos. Pior. Os seis ministros remanescentes deixaram claro que não só não pretendem deixar os cargos, como vão continuar trabalhando para usar esses cargos para conquistar votos em favor do governo no processo de impeachment. Quer ver piorar? Renan Calheiros, que não participou da ópera bufa, já discursou que a saída foi precipitada.
O partido é o segundo maior da aliança que sustenta o governo e por isso é considerado a principal base de sustentação da coalização que compõe a aliança de partidos comandada pelo PT. Se realmente conseguisse fazer cumprir a promessa de abandonar o governo, a debandada dos peemedebistas poderia servir como uma espécie de sinal para que os outros partidos menores também abandonassem o barco. Num primeiro momento, o comando do governo chegou a temer que isso fosse acontecer, mas com o passar dos dias, foi percebendo que “o bicho não era tão feio como pintavam”. Resumindo, o que era para ser uma grande demonstração de força e unidade, serviu para confirmar o que todo mundo sempre soube, que o partido está tão dividido quanto sempre esteve.
Pese isso, não imaginem que os governistas estejam pensando que “tá tranquilo, tá favorável”. Embora as previsões sobre o futuro do processo de impeachment mudem a todo instante, no último domingo os analistas trouxeram um cenário em que o governo teria, naquele final de semana, 97 votos seguros contra o impedimento, necessitando de mais 75 para atingir os 172 com os quais derrotará os propositores do impedimento da presidente Dilma. Aliás, essa é uma meia verdade, porque quem precisa de votos são os autores da propositura, já que têm, eles sim, que contabilizar 342 votos favoráveis para dar seguimento ao impeachment. Pelo jeito, apesar do barulho, não têm, ainda, nem a metade desse número. Enfim, ainda que o impeachment esteja longe, ao menos nos números, o rompimento do PMDB teria um caráter simbólico, já que o partido é considerado especialista em participar de governos, beneficiando-se dos bônus sem arcar com os ônus, e quando decide sair é porque são grandes as chances de que o fim está próximo.