Ao contrário do anunciado pelo governador João Doria (PSDB), de que os testes da vacina Coronavac contra a Covid serão concluídos neste fim de semana, especialistas que trabalham diretamente na pesquisa afirmam que não há prazo para finalizar esta etapa.
Na sexta (16), o governador afirmou que a terceira fase de testes da vacina Coronavac contra o novo coronavírus seria concluída neste fim de semana e anunciou que a vacinação será obrigatória em todo Estado de São Paulo. Doria disse ainda que vai se reunir na próxima quarta-feira (21) com representantes da área de saúde do governo federal para apresentar os dados e tentar garantir a disponibilidade dela para todos os brasileiros.
O virologista Maurício Lacerda Nogueira, que coordena os testes da Coronavac por meio da Faculdade de Medicina de Rio Preto (Famerp), afirmou que tem “agenda cheia” de vacinação para a próxima semana. “O estudo segue recrutando pacientes, nós continuamos aqui em Rio Preto com uma agenda cheia para vacinar mais aproximadamente 15 pessoas e estamos recrutando até atingir o número previsto”, explicou.
Nogueira participou nesta sexta (16) da live semanal Diário da Peste – confira aqui – ao lado da especialista em genética molecular Natalia Pasternak. Ela foi ainda mais crítica sobre o anúncio feito pelo governador. “Para não dizer que o governador está louco, vamos dizer que está equivocado”, afirmou Natalia. “Não acabou a fase três, o que eles vão fazer agora é uma análise interina de segurança e, até o final do ano, a gente deve ter resultado da eficácia não só da Sinovac, mas das outras vacinas também”.
Somente em Rio Preto, a previsão é vacinar 400 voluntários, sendo que metade receberá placebo e a outra metade a vacina. “O estudo segue recrutando pessoas até atingir o protocolo de 14 mil pessoas (no total)”, afirmou Nogueira. Natalia explicou que a fase três de estudos depende do número de eventos, ou seja, de pessoas que ficaram doentes após as vacinações e que, por isso, não é possível estabelecer uma data para finalização. “Isso não depende de tempo, depende da exposição das pessoas e delas contraírem o vírus ou não, e a gente tem que esperar isso acontecer”.
Sigilo x transparência
O coordenador das pesquisas em Rio Preto acredita que estudos como os que têm sido realizados, devido à superexposição, acabam gerando uma “teoria conspiratória das vacinas”.
“O que me incomoda é que estudo de vacina é tudo muito obscuro, demorado, cheio de detalhes e caro. E agora está sendo acompanhado em real-time. Tudo vira motivo de conversa. Nós tivemos paradas de estudo, absolutamente normais, e aí começa uma teoria conspiratória das vacinas”, afirmou Nogueira.
Apesar de defender a importância da informação, Nogueira defende que os pesquisadores acabam sendo prejudicados por conta do excesso dela. “Se estivéssemos fazendo esses estudos em maior condição de sigilo e menos transparência, os pesquisadores teriam mais tranquilidade para fazer isso”, disse o virologista.