domingo, 24 de novembro de 2024
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85% da população paulista depende de botijão de gás para cozinhar

A maior parte das casas do estado de São Paulo tem o gás de cozinha vendido em botijões como principal fonte de energia para cozinhar. São 13,2 milhões de residências…

A maior parte das casas do estado de São Paulo tem o gás de cozinha vendido em botijões como principal fonte de energia para cozinhar. São 13,2 milhões de residências — 85,3% do total de domicílios no estado.

O levantamento foi feito pela Globonews com base em dados da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás) e da Fundação Seade.

Somente 2,27 milhões de lares possuem gás natural encanado. Isso representa 14,7% do total de residências em São Paulo.

A média nacional é ainda menor. Segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), apenas 1,6% dos lares no país têm acesso ao gás encanado.

Essa disparidade na quantidade de pessoas que utilizam o gás encanado em São Paulo comparado ao restante do país se deve à privatização das companhias de gás, segundo o economista do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) Adriano Pires.

“Em São Paulo e no Rio de Janeiro, as companhias de gás foram privatizadas e se fez um investimento na rede de distribuição”, afirma Pires.

Em dez anos, a cobertura do gás encanado saltou de 8,6% para 14,7% dos domicílios em São Paulo. “O gás natural encanado está em poucas residências, ainda é necessário fazer o esforço de enterrar mais canos”, diz o especialista do CBIE.

Historicamente, o Brasil sempre foi um importador de gás natural. “A produção sempre foi pequena. Agora, temos gás, mas estamos demorando a atender o consumidor porque não havia esse investimento na distribuição”, explica o economista.

Segundo dados da Abegás, em todo o país, atualmente, 3,865 milhões de domicílios possuem gás encanado. Ou seja, 59% das residências com esse serviço ficam no Estado de SP.

O Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás) afirma que, em todo o Brasil, em ao menos 91% dos lares ainda se utiliza o botijão de gás.

Novo aumento no GLP
Nesta semana, a Petrobras anunciou um reajuste de 7,2% no preço do gás de cozinha (GLP) nas distribuidoras. A empresa justificou o ajuste “após 95 dias de preços estáveis, nos quais a empresa evitou o repasse imediato para os preços internos da volatilidade externa causada por eventos conjunturais”.

Marcelo Marques é proprietário de uma revenda autorizada de gás e, desde a última segunda-feira (11), já está trabalhando com o novo valor — passou a cobrar R$115 no botijão que até então custava R$110. “A gente obrigatoriamente tem que repassar porque a nossa operação é muito cara”, explica o empresário, que tem 18 colaboradores contratados com CLT.

Marques afirma que, com os aumentos sucessivos, as vendas dele caíram cerca de 10%. “Só não caiu mais bruscamente porque o consumo de gás é essencial”, afirma. O perfil da compra também mudou, segundo ele. “O consumidor está precisando esperar o botijão dele acabar mesmo para fazer a troca e, muitas vezes, paga no crédito ou em dois cartões. Antigamente, era comum ter um botijão reserva em casa”, conta.

Como o gás de cozinha é um derivado do petróleo, o preço dele varia de acordo com o valor do barril da commodity — que subiu de cerca de US$ 40 no ano passado para US$ 65, em média, em 2021. “Também houve uma depreciação muito grande do real frente ao dólar. Pode-se dizer que, nos últimos meses, o câmbio foi o maior culpado pelo aumento do preço do gás de cozinha”, explica o economista Pires.

Já o gás natural encanado tem o preço fixado por agências reguladoras estaduais — semelhante ao que ocorre com a energia elétrica em âmbito nacional, regulada pela ANEEL. E, quanto maior o número de consumidores, menor o preço deve ficar.

Alternativas ao botijão
Como a distribuidora de gás de Marcelo atua em comunidades da Zona Sul de São Paulo, ele afirma que não é incomum que ele e os funcionários entrem nas casas para entregar o gás e encontrem fogões à lenha improvisados sendo utilizados pelas famílias de baixa renda.

Para o economista Adriano Pires, o botijão continuará sendo a principal fonte de energia das casas brasileiras por muitos anos. Enquanto isso, lenha, álcool e até mesmo a queima de pneus e garrafas PET em fogões improvisados são algumas das alternativas utilizadas — muitas vezes perigosas e prejudiciais à saúe.

O economista do CBIE acredita que a solução seria a implementação de uma tarifa social para o gás — em que famílias de baixa renda paguem um valor inferior ao dos outros consumidores. “O vale gás deve funcionar como o Vale Transporte: um cartão eletrônico que só valesse para a compra do botijão de gás. Se você simplesmente aumenta o valor do benefício do Bolsa Família, aquela família que está com uma demanda reprimida não vai necessariamente comprar o gás. Ela pode comprar outros produtos”, explica.

“Não dá pra manter essa população de renda baixa, que são cerca de 50 milhões de pessoas, nessa situação. O governo brasileiro deveria, com rapidez, resolver esse problema que tem uma gravidade muito maior do que a gente imagina”, afirma o economista.

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