A homossexualidade e a bissexualidade têm sido temas que, recentemente, ganharam mais espaço para discussões. A sociedade está flexibilizando e ampliando seus comportamentos sexuais, fazendo com que surjam oportunidades onde as pessoas, por curiosidade e interesse, acabam ousando ‘experimentar’.
A psicóloga Adriana Botarelli conversou com o DHoje e explicou que essas novas experiências estão ligadas às conexões. “Buscamos em nossas relações amorosas conexão emocional, segurança, alegria, parceria, cumplicidade, paixão, entre outros. Nos apaixonamos por pessoas, por comportamentos que nos agradam, por princípios, por pensamentos e não, necessariamente, a pessoa que encontramos e que atende às nossas necessidades é do sexo oposto”.
Cientificamente a psicóloga ressalta que ainda não se sabe a causa exata da orientação sexual, mas, “existem teorias que ela é causada por uma interação complexa de influências genéticas, hormonais e ambientais, visto que somos seres Bio-Psico-Sociais. A bissexualidade foi observada em várias sociedades humanas, ao longo da história registrada e, se desconsiderarmos regras sociais, familiares, condições morais, culturais ou religiosas, muitas pessoas poderiam se considerar bissexuais”, complementa Adriana.
Um estudo realizado por um aplicativo de encontros chamado Gleeden, resultou nos seguintes dados: mais de 45% dos participantes heterossexuais dizem que já pensaram em ter um relacionamento homossexual, mas apenas 18% deles colocaram em prática – até agora. Por outro lado, 20% dos participantes heterossexuais afirmam ter feito sexo com uma pessoa do mesmo sexo e, apesar disso, apenas cerca de 10% das pessoas inscritas no Gleeden se declaram bissexuais, e apenas 1% se declara homossexual.
Há vários motivos que explicam a tendência ascendente da bissexualidade: um deles se deve à identificação da própria sexualidade e, o outro, por curiosidade e necessidade de experiências de sexos mais diversos. É aí que os aspectos socioculturais têm muito a ver: 70% dos pesquisados afirmam que, se não houvesse condições morais, culturais ou religiosas, todas as pessoas poderiam ser bissexuais. De fato, 96% das pessoas que participaram do estudo concordam com a bissexualidade e não a condenam.
Se somarmos a tudo isso a ascensão do conteúdo audiovisual, cujo eixo principal é a abertura sexual, e que é consumido desde a adolescência, nos encontramos diante de uma realidade onde a bissexualidade é visualizada de forma expansiva.
Embora seja verdade que esse aumento exponencial da orientação bissexual ocorra em maior proporção entre os jovens de 14 a 25 anos, cada vez mais mulheres adultas estão expressando uma mudança em suas necessidades e ampliando seu alcance em direção à diversidade. De fato, as mulheres, muitas por insatisfação ou tédio, viram novas oportunidades se abrirem para elas satisfazerem suas necessidades sexuais.
“Podemos ainda considerar outros fatores: uma mulher abusada, por exemplo, pode criar rejeição por manter relações sexuais com pessoas do mesmo sexo que o abusador, tornando inviável a relação com homens. Além disso, figuras masculinas inadequadas na infância, ou a ausência desta, podem propiciar que mulheres consigam buscar vínculo e afeto também em outras mulheres. O mesmo acontece com os homens”, frisa a especialista comportamental.
Além disso, esta questão pode também estar relacionada a não obrigatoriedade de manter um casamento heterossexual. “Antigamente as mulheres permaneciam em casamentos infelizes, pois um divórcio era mal visto pela sociedade e muitas dependiam financeiramente dos maridos. Atualmente, as mulheres são independentes e vem ganhando espaço no mercado de trabalho, dando a elas a possibilidade e o poder de escolha”, relata Adriana.
A especialista ainda conclui explicando que é comum que pessoas com dúvidas sobre a homossexualidade passem por um estágio anterior de bissexualidade. “Enquanto não se está plenamente confiante sobre sua orientação, a experiência bissexual faz com que as pessoas criem repertório que confirmem ou não suas teorias”, finaliza.