Quatro em cada dez brasileiros têm ao menos uma doença crônica não transmissível, conjunto de enfermidades que responde por mais de 70% das causas de mortes no Brasil.
São doenças como hipertensão arterial, cardiovasculares, câncer, diabete e depressão. Esse é o diagnóstico da Pesquisa Nacional de Saúde 2013, divulgada nesta quarta-feira, 10, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Dos 146,8 milhões de brasileiros, 57,8 milhões responderam que sofrem de pelo menos uma desses doenças. Elas estão associadas a hábitos pouco saudáveis, como o consumo abusivo de álcool, alimentação pobre em frutas, legumes e verduras, sedentarismo, pouco exercício físico e tabagismo – um padrão de comportamento que também aparece na pesquisa do IBGE. “O monitoramento destes fatores de risco e da prevalência das doenças a eles relacionados é primordial para definição de políticas de saúde voltadas para prevenção destes agravos”, escreveram os pesquisadores na publicação.
A hipertensão, importante fator de risco para doenças cardiovasculares, atinge um em cada 5 brasileiros – 31,3 milhões de pessoas relataram ter sido diagnosticadas com pressão alta. Deste total, 14,1% foram internados por complicações provocadas pela doença.
As mulheres foram mais diagnosticadas do que os homens, 24,2% delas ante 18,3% deles. A proporção de homens e mulheres que sofre de pressão alta é maior conforme aumenta a idade – a partir dos 65 anos, a enfermidade afeta mais da metade da população. A doença parece ter também influência de importante componente de renda – 31% das pessoas sem instrução ou com ensino fundamental incompleto têm pressão alta. Na outra ponta, 18,2% dos entrevistados com nível superior completo disseram ser hipertensos.
No Pará e Maranhão, quase 10% da população nunca tiveram a pressão arterial medida. A situação é mais grave na região Norte – 7% dos moradores nunca tiveram a pressão medida. Em todo o País, essa proporção cai para 3%.
Colesterol. Outro fator importante para o aumento do risco de doenças cardiovasculares é o colesterol elevado – 12,5% das pessoas com mais de 18 anos tiveram esse diagnóstico. Minas Gerais foi o Estado com a maior proporção de pessoas com índice elevado de gordura no sangue (14,8%), seguido de Sergipe (14,6%). Entre as mulheres, chama a atenção as taxas altas de colesterol nos Estados de Sergipe (19,8%), Rio Grande do Norte e Paraíba (17,2%) e Minas Gerais (16,8%).
Entre os brasileiros, 6,2% têm diabete. Mas o dado pode estar subestimado, já que 11,5% da população nunca testou o nível de glicose no sangue – o açúcar elevado é indicador de que a pessoa desenvolveu diabete. A situação é mais grave em Estados do Norte e Nordeste, como Maranhão (25,9% ), Acre (24,7%), Roraima (22,7%), Ceará (20,9%), Pará e Tocantins (19,1%), e Piauí (17,8%).
O risco do descontrole do diabete é o agravamento do quadro de saúde. A pesquisa mostrou que entre as pessoas diagnosticadas há mais de 10 anos, 36,6% desenvolveram problemas de vista; 15,5%, problemas circulatórios; 13,3%, problemas nos rins; 7,1% enfartaram; 4,4% sofreram acidente vascular cerebral (derrame) e 2,4% tiveram de amputar um membro.
Depressão. Onze milhões de brasileiros sofrem de depressão e a prevalência é maior na região urbana (8% da população) do que na rural (5,6%). As regiões Sul e Sudeste apresentaram os maiores porcentuais de diagnósticos de depressão, 12,6% e 8,4% respectivamente. Apesar do diagnóstico, menos da metade (46,4%) recebeu assistência médica no ano anterior.
A pesquisa aponta que uma em cada 10 brasileiras sofre de depressão. Entre os homens, a proporção passa para um em cada 25.
De acordo com Maria Lucia Vieira, gerente da PNS, a proporção superior de mulheres com doenças crônicas foi uma constante no levantamento. Isso ocorre porque elas têm habito maior de procurar o médico, cuidam mais da saúde. “Há uma resistência ainda maior dos homens em procurar o profissional de saúde mental. Acredita-se que as mulheres tenham uma facilidade maior de procurar esses profissionais e até de assumir a depressão”.
Das pessoas diagnosticadas com depressão, 52% usam medicamento, mas apenas 16,4% fazem psicoterapia. Uma em cada dez diz ter limitação das atividades por causa em grau intenso ou muito intenso de limitação das atividades por causa da depressão.
Doenças cardiovasculares. A PNS apontou ainda que 6 milhões de pessoas (4,2% da população) tiveram diagnóstico de doenças cardiovasculares (infarto, angina, insuficiência cardíaca e aterosclerose). A região Sul registrou a maior proporção 5,4%. Entres os brasileiros com mais de 18 anos, 27 milhões sofrem de problemas crônicos de coluna (18,5%); 2,2 milhões sofreram acidente vascular cerebral (derrame); 2,7 milhões tiveram diagnóstico de câncer. O câncer de mama foi relattado por 39,1% das mulheres como o primeiro a ser identificado, seguido do de pele 14,4%. Entre os homens, o câncer de próstata foi o primeiro (36,9%), seguido do de pele (18,7%).