sexta, 22 de novembro de 2024
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2023 foi o mais quente dos últimos cem mil anos, diz levantamento

Todo mundo na comunidade climática enxergava o que vinha. O que já se sabia seria anunciado se confirmou. Na “era da ebulição”, descrita pelo secretário-geral da ONU António Guterrez, 2023…

Todo mundo na comunidade climática enxergava o que vinha. O que já se sabia seria anunciado se confirmou. Na “era da ebulição”, descrita pelo secretário-geral da ONU António Guterrez, 2023 foi confirmado como o ano mais quente no planeta desde que se iniciaram as medições meteorológicas, marcando um período de aquecimento acelerado da Terra com quebra de sucessivos recordes. Foi o ano mais quente já experimentado pela civilização humana.

As temperaturas globais atingiram níveis excepcionalmente elevados em 2023, anunciou hoje o Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas (C3S), implementado pelo Centro Europeu de Previsões Meteorológicas a Médio Prazo em nome da Comissão Europeia e com financiamento da UE,

As temperaturas globais sem precedentes a partir de junho fizeram com que 2023 se tornasse o ano mais quente de que há registo, ultrapassando por uma larga margem 2016, o ano anterior mais quente.

O relatório Global Climate Highlights de 2023, baseado principalmente no conjunto de dados de reanálise do modelo ERA5, apresenta um resumo geral dos extremos climáticos mais relevantes de 2023 e dos principais impulsionadores deles, como concentrações de gases de efeito estufa, El Niño e outras variações naturais.

O aquecido 2023 foi confirmado como o ano civil mais quente nos registros de dados de temperatura global que remontam a 1850. O ano teve uma temperatura média global de 14,98°C, 0,17°C superior ao valor anual mais elevado anterior em 2016. 2023 foi 0,60°C mais quente do que a média de 1991-2020 e 1,48°C mais quente do que o nível pré-industrial de 1850-1900.

O Copernicus pondera ser provável que no período de 12 meses terminado em janeiro ou fevereiro de 2024, a temperatura global exceda 1,5°C acima do nível pré-industrial, que é o valor limite estabelecido de aquecimento planetário no Acordo de Paris.

O ano de 2023 marcou a primeira vez desde que há registo que todos os dias num ano tiveram temperatura média global diária ultrapassando 1°C acima do nível pré-industrial de 1850-1900. Perto de 50% dos dias do ano foram mais de 1,5°C mais quentes do que o nível de 1850-1900, e dois dias em novembro foram, pela primeira vez, mais de 2°C mais quentes.

Cada mês, de junho a dezembro de 2023, foi mais quente do que o mês correspondente em qualquer ano anterior. Julho e agosto de 2023 foram os dois meses mais quentes já registrados na série histórica global. O verão boreal (junho-agosto) também foi a estação mais quente já registrada no mundo.

Setembro de 2023 foi o mês com um desvio de temperatura acima da média de 1991–2020 maior do que qualquer mês no conjunto de dados do modelo de reanálise ERA5. Dezembro de 2023 foi o dezembro mais quente já registrado a nível mundial, com uma temperatura média de 13,51°C, 0,85°C acima da média de 1991-2020 e 1,78°C acima do nível de 1850-1900 para o mês.

As temperaturas médias globais da superfície do mar permaneceram persistentemente e anormalmente altas, atingindo níveis recordes para a época do ano, de abril a dezembro, com o começo do El Niño declarado e junho. As anomalias de temperatura da superfície do mar foram elevadas na maioria das bacias oceânicas, e em particular no Atlântico Norte, desempenhando um papel importante na quebra do recorde de ano mais quente já observado também nos oceanos.

As anomalias de temperatura alta sem precedentes nos oceanos foram associadas a ondas de calor marinhas em todo o mundo, incluindo em partes do Mediterrâneo, Golfo do México e Caribe, Oceano Índico e Pacífico Norte, e grande parte do Atlântico Norte.

O ano de 2023 foi o segundo ano mais quente já observado na Europa com temperatura média anual 1,02°C acima da média de 1991-2020, mas 0,17°C menos quente que 2020, ano mais quente registrado até hoje no continente europeu. As temperaturas na Europa estiveram acima da média durante 11 meses em 2023 e setembro foi o setembro mais quente já registrado.

O inverno europeu (dezembro de 2022 – fevereiro de 2023) foi o segundo inverno mais quente já registrado. Já a temperatura média do verão europeu (junho-agosto) foi de 19,63°C; 0,83°C acima da média, o quinto mais quente já registrado. O outono europeu (setembro-novembro) teve uma temperatura média de 10,96°C, 1,43°C acima da média. Isto tornou o outono europeu o segundo mais quente já anotado, apenas 0,03°C menos quente que o outono de 2020.

O aquecimento do planeta em níveis recordes teve desdobramentos por todo a Terra. O ano de 2023 foi notável para o gelo marinho da Antártida que atingiu extensões baixas recordes para a época correspondente do ano em oito dos doze meses. As extensões diária e mensal atingiram os mínimos históricos em fevereiro de 2023.

A extensão do gelo marinho do Ártico no seu pico anual em março foi classificada entre as quatro mais baixas para a época do ano no registro de satélites desde 1978. O mínimo anual em setembro foi o sexto menor.

As concentrações atmosféricas de dióxido de carbono e metano continuaram a aumentar e atingiram níveis recordes em 2023, atingindo 419 partes por milhão (ppm) e 1.902 partes por bilhão (ppb), respectivamente. As concentrações de dióxido de carbono em 2023 foram 2,4 ppm superiores às de 2022 e as concentrações de metano aumentaram 11 ppb.

Um grande número de eventos extremos foi registado em todo o mundo, incluindo ondas de calor, inundações, secas, ciclones e incêndios florestais. As emissões globais estimadas de carbono dos incêndios florestais em 2023 aumentaram 30% em relação a 2022, impulsionadas em grande parte por incêndios florestais persistentes no Canadá, que teve a sua pior temporada de fogo na história.

“Sabíamos, graças ao trabalho do programa Copernicus ao longo de 2023, que não receberíamos boas notícias hoje. Mas os dados anuais aqui apresentados fornecem ainda mais provas dos impactos crescentes das alterações climáticas”, destacou Mauro Facchini, Chefe de Observação da Terra da Comissão Europeia.

Samantha Burgess, vice-diretora do Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas”, afirmou que “2023 foi um ano excepcional, com os registros recordes climáticos caindo como dominós. As temperaturas durante 2023 provavelmente excederão as de qualquer período pelo menos nos últimos 100.000 anos”, disse.

“Os extremos que observámos nos últimos meses fornecem um testemunho dramático de quão longe estamos agora do clima em que a nossa civilização se desenvolveu. Isto tem consequências profundas para o Acordo de Paris e todos os esforços humanos. Se quisermos gerir com sucesso riscos climáticos, precisamos urgentemente descarbonizar a nossa economia, utilizando simultaneamente dados e conhecimentos climáticos para nos prepararmos para o futuro”, alertou Carlo Buontempo, Diretor do Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas.

Os primeiros sinais de como anormal 2023 se tornaria começaram a surgir no início de junho, quando as anomalias de temperatura relativas ao nível pré-industrial de 1850-1900 atingiram 1,5°C durante vários dias consecutivos. Embora esta não tenha sido a primeira vez que as anomalias diárias atingiram este nível, isso nunca tinha acontecido naquela altura do ano. No restante de 2023, as anomalias diárias da temperatura global acima de 1,5°C tornaram-se uma ocorrência regular, a ponto de perto de 50% dos dias em 2023 terem ultrapassado 1,5°C acima do nível 1850-1900.

O Copernicus esclarece que não significa que tenhamos ultrapassado os limites estabelecidos pelo Acordo de Paris (uma vez que se referem a períodos de pelo menos 20 anos em que esta anomalia de temperatura média é ultrapassada), mas destaca que se “abre um precedente terrível”.

Um fator crítico para as temperaturas incomuns do ar experimentadas ao longo de 2023 foram as altas temperaturas sem precedentes nos oceanos. As temperaturas médias dos oceanos no mundo para o período entre abril e dezembro foram as mais elevadas para a época do ano no conjunto de dados.

O principal fator para o aquecimento foi o aumento contínuo das concentrações de gases com efeito de estufa, mas causa adicional que contribuiu em 2023 foi o El Niño – Oscilação do Sul, o padrão de variabilidade climática natural que faz com que as temperaturas dos oceanos no Pacífico tropical central e oriental alternem entre condições mais frias (La Niña) e mais quentes (El Niño) do que a média.

No entanto, a transição para o El Niño por si só não explica todo o aumento das temperaturas da superfície dos oceanos em escala global em 2023, uma vez que as altas temperaturas oceânicas fora do Pacífico equatorial contribuíram significativamente para os recordes globais.

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