Quinta, 18 de Abril de 2024

Laicato

20/04/2018 as 19:57 | Fernandópolis | Sérgio Piva
O termo laicato, dentre outras acepções, significa o “conjunto dos laicos e de suas relações com a Igreja”.

Por sua vez, a palavra laico tem sua origem etimológica no grego laikós que significa “povo” ou “do povo”, com o mesmo sentido de leigo que, na esfera religiosa, define aquele que não pertence ao clero nem a uma ordem religiosa. Por isso, originalmente, a palavra laico servia para descrever cristãos devotos, mas que não faziam parte do clero.

A maioria das religiões são formadas de clérigos e leigos, e mesmo que haja contestação por alguns segmentos e denominações sobre essa distinção entre as funções dos membros das organizações religiosas, ainda assim, dentro deles há uma diferenciação hierárquica entre seus seguidores.

E não poderia ser diferente, pois, qualquer que seja a instituição, existe a necessidade de uma mínima organização e, por consequência, dentro delas o estabelecimento de funções as quais sempre serão permeadas, mesmo que implicitamente, pela natureza distinta entre líderes e liderados, ou seja, entre clérigos e leigos, ou qualquer outra denominação que se queira dar às atribuições de uns e funções de outros.

Tais distinções são essenciais para o bom funcionamento das organizações. No entanto, essa relação hierárquica não significa absolutamente que possa servir de justificativa, ou mera desculpa, para o estabelecimento de um improdutivo vínculo entre superior e subordinado, muito menos, entre soberano e súdito ou, inapropriadamente, entre onipotente e mortal comum.

As grandes mudanças ocorridas na história das religiões foram provocadas ou conduzidas por leigos, como a Reforma Protestante, no cristianismo, assim como o surgimento e desenvolvimento de fortes organizações religiosas no budismo, sem mencionar outras ocorridas na era antiga.

Os leigos, orientados ou aconselhados pelo clero, são os responsáveis maiores pelo crescimento de desenvolvimento das instituições religiosas, tanto no aspecto patrimonial, contribuindo financeiramente para a construção de igrejas, templos, auditórios e demais estruturas responsáveis por acolher fisicamente seus seguidores, quanto por meio do trabalho arregimentador destinado à propagação das doutrinas e conversão de novos membros.

Por esses motivos, acho extremamente salutar a celebração do “Ano Nacional do Laicato” na Igreja Católica do Brasil, proposto pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com o objetivo principal de notabilizar e “estimular a presença e a atuação dos cristãos leigos e leigas, verdadeiros sujeitos eclesiais, como sal, luz e fermento na Igreja e na sociedade”.

O Papa Francisco enviou uma saudação aos fiéis brasileiros pelo Ano do Laicato, que teve início em 26 de novembro de 2017 e se encerra em 25 de novembro de 2018. Nada mais apropriado que o Sucessor de Pedro enalteça essa celebração, e as ações a ela relacionadas, como representante de um leigo.

O apóstolo Pedro era um pescador, assim como todos os outros apóstolos escolhidos por Jesus, nenhum deles fazia para do clero da igreja da época. Não foram arregimentados nos templos, foram eleitos por Jesus desempenhando papéis comuns na sociedade e foram colocados lado do mestre para trabalharem voluntariamente.

Assim, os leigos sempre devem ter seu lugar nos altares e suas cadeiras nas mesas eclesiásticas. Não em patamar inferior, mas na mesma posição e altura do sacerdote, sempre com respeito reverente a esse por sua função na igreja, lembrando que “aquele que entre vós todos for o menor, esse mesmo será grande”

Da mesma forma o sacerdote deve lembrar que “não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus, o qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica”.

E todos aprendermos com o ensinamento de Jesus, que na ceia derradeira colocou-se ao centro, não para ser servido, mas para servir tanto os da esquerda quanto os da direito, com as cadeiras enfileirados ao seu lado, nem abaixo, nem acima, mas na mesma elevação, para também nos instruir que estando nós lado a lado podemos ser servidos e, da mesma forma, esticar nossos braços para servir.

Leigos e sacerdotes servem cada qual a sua maneira, de acordo com sua missão. Sempre na mesma esteira, sejam ajoelhados, de pé ou sentados nas mesmas cadeiras.

Sérgio Piva

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