Quarta, 24 de Abril de 2024

High and Ever High

Dando continuidade ao tema do último artigo, ou seja, o reinício do ano “pós-carnaval”, cujo termo não significa a continuidade do Carnaval de Salvador, que não tenho certeza se já terminou, nem tampouco qualquer folia que tenha recebido essa denominação em contraponto às festas de “pré-carnaval”, mas fazendo referência ao texto anterior, onde falamos sobre o calendário imaginário de algumas pessoas, com relação ao início do ano somente após o carnaval e também sobre a balanço dos gastos com os “ipês” do José Simão, sem falar na conta do cartão de crédito, que me fez relembrar dos gastos com presentes dados no ano passado, nas festas de Natal e Ano Novo.
15/03/2017 as 10:25 | Fernandópolis | Da Redaçao
Como brinquedo de criança é caro. Não só brinquedos, tudo para criança é caro. Mas os preços dos brinquedos estão lá em cima, nas alturas. Se for qualquer objeto para menina então, sai de baixo, porque o que vem de cima pode cair com muita força na sua cabeça.

E por falar em cair, quase cai de costas ao ver (ou rever) o preço das bonecas. Tem boneca mais cara do que gente. Não sei se “a gente” que vale pouco ou a boneca que custa demais.

Por exemplo, as bonecas da linha “Monster High” e “Ever After High”, que, mesmo sob os protestos dos “gospels” de plantão, tentando demonizar essas bonecas, inutilmente, principalmente no caso das primeiras, que já são monstros, publicando nos blogs quase invisíveis as teorias das conspirações do próprio Satanás, fazendo-se presente na supostas mensagens subliminares, são as mais vendidas.

Os devaneios textuais daqueles autores têm origem na completa ignorância, do verbo ignorar, desconhecer, da própria origem ou tradução dos nomes das bonecas. Sabemos que as palavras têm muitos significados e cada um precisa ser analisado em seu contexto, podendo a escolha dos vocábulos ser usada para explicar ou complicar, ainda, para confundir e fazer devanear, cuja locução verbal costumo chamar de “viajar na maionese”. Então, vejamos.

O adjetivo da língua inglesa “high” pode, repito, PODE significar “alto, elevado, superior, nobre, importante”, como na expressão “high prices”, ou seja, “preços elevados”. Por isso, em uma postagem, tentando demonizar as bonecas “Monster High”, como já fizeram com tantas outras no passado, a autora da matéria traduziu o nome delas como “Monstro Elevado”. Imagino que a acepção de “elevado”, no caso, seria sinônimo de “nobre”.

Não vou adentrar no mérito das parvoíces que a imaginação da autora consegue criar, apenas vou contestar a tradução, talvez, propositadamente errônea feita por ela. As bonecas “Monster High” e “Ever After High” foram concebidas como adolescentes, são, as primeiras, “personagens inspirados em monstros lendários e de filmes de terror encarnados como jovens adolescentes em uma escola para monstros”. Aliás, monstros adolescentes fazem todo sentido. As segundas, são inspiradas em personagens de contos de fada. “’Ever After High’ é uma escola localizada no Mundo dos Contos de Fadas. Ela é frequentada pelos jovens filhos de personagens dos contos de fadas, que estão destinados a seguir o destino de seus pais, a fim manter suas histórias vivas ao longo das gerações”.

O histórico da vida dos personagens já nos dá uma pista do significado de “high” nesse contexto. Em inglês, “high school” refere-se ao período escolar correspondente ao Ensino Médio (antigo Colegial) no Brasil. Assim, o “high”, no nome daquelas bonecas, faz alusão à etapa do sistema de ensino frequentada predominantemente por adolescentes. Em tradução livre, baseado no enredo da história dos personagens, poderíamos interpretar esses nomes da seguinte forma: “Monster High” - “Escola de Monstros” - e “Ever After High” – “Escola para Sempre” – em referência à fase escolar e fazendo lembrar quem as frequenta, os adolescentes.

Feitos os devidos esclarecimentos sobre tais significantes e significados, isso ainda não explica os preços cobrados por essas bonecas. E não são só por elas. Se monstros custam caro, imaginem princesas. Quase caí de costas quando a vendedora de uma loja me falou o preço da “Frozen”. Congelei na hora. Quase ao lado dela, tinha outra boneca parecida, mas com um preço para me tirar daquela fria. Descobri que era mais barata por se tratar da irmã da “Frozen”. Repudiei. Ora, isso é pura discriminação, um tipo de bullying. Pelo sim, pelo não, perguntei se não teriam a prima da “Frozen”.

O preço da “Baby Alive” estava pela hora da morte. Vivo mesmo foi quem inventou uma boneca tão cara. Em outa loja, a vendedora tentou justificar a exorbitância do valor (melhor dizer preço, talvez) de outra boneca, que nem me lembro do nome. Perguntei o motivo do preço tão elevado. Ela me disse, utilizando um texto decorado, parecido com aqueles vomitados pelos vendedores e atendentes de telemarketing, falando com a voz empostada, como se estivesse profetizando: “Essa boneca ultrapassada gerações”.

Imagino que nem ela mesma, vendedora, sabia o que tal frase significava. Eu muito mesmo, mas faço ideia. Ultrapassa gerações pagando as prestações. Se seu compra-la agora, quem sabe meu bisneto termine de pagar.

Como estava em um misto de loja de brinquedos e papelaria, minha esposa, que me acompanhava, viu algumas mochilas de escola na prateleira logo ao lado. Achou todas elas lindas, como toda mulher acha tudo que quer comprar bonito. Logo perguntou o preço. Dessa vez, foi ela quem quase caiu de costas. Normal, se tratava de uma mochila da Coca-Cola, argumentou a vendedora. Entrei no diálogo e resolvi tentar economizar. Perguntei se não tinha mochila da Poty ou da Cotuba. É da região, devem ser mais baratas. A vendedora nem respondeu, só riu. Concluí que ainda não fabricaram essas.

Enfim, preço de brinquedo, não é brinquedo não. Olha que nem falei de brinquedos para menino, que também custam caros demais para serem demolidos na segunda semana de “brincadeira”.

O “high” não me sai da cabeça. Nessa área tudo é “high”. Principalmente os preços, “ever high”. Depois de uma tarde de peregrinação no comércio, de ouvir as mais criativas explicações que justificassem os preços das etiquetas, de gastos “programados” e, ao final, recebendo a fatura do cartão de crédito, olhando fixo para o total a pagar, deu vontade de mandar o criador desses brinquedos, o fabricante, sei lá quem, para o “high que o parta”.

Não sou saudosista, nem acredito que tudo no passado era melhor. Só acho que não somente eu, mas muita gente tem saudade das bonecas de pano e de sabugo de milho. Principalmente os pais.

Sérgio Piva
s.piva@hotmail.com
MAIS LIDAS
É vedada a transcrição de qualquer material parcial ou integral sem autorização prévia da direção
Entre em contato com a gente: (17) 99715-7260 | sugestões de reportagem e departamento comercial: regiaonoroeste@hotmail.com